SEGUNDA-FEIRA: PROJETOS!

 

O bom da segunda-feira é que ela funciona como o barco que nos traz de volta da ilha da fantasia do fim de semana. Normalmente, esses maravilhosos dias começam no “#sextou!” e termina às 6 da madruga da segunda, quando o terrível som do cuco desperta obrigatório (digo isso para as pessoas normais!).

 

Pois bem, como dizia, são nesses dias que estamos na ilha da fantasia, essa “ilha” que criamos em nossas mentes pra contar história pra nós mesmos e que, no deleite das rodas de convivência, nos cercamos de atenções, olhares e ouvidos para debruçarmos o portfólio dos nossos projetos, realizados, ou a realizar, quiçá até inventados, mas que, sem os quais, não podemos viver, porque ninguém vive uma vida, autêntica e plena, sem projetos.

 

Ou melhor, salvo os que estão à beira da cova, todos, na média, tem ou deve ter algum projeto na vida, senão que “vida” é essa, senão esperar por alguma cura? Mas, retratando-me, isso também é vida e é projeto, pois enquanto há vida, há projeto!

 

Devo explicar, contudo, que há pessoas que vivem tristes, porque ainda não descobrirarm o próprio projeto, quais sejam: os depressivos; os tolos; os errantes; os desvalidos; os carentes amantes sem solução, os sonhadores sem causa; os incompreendidos; os perdidos na vida; os desenganados; os combalidos; os famintos de amor e de sorte; aqueles sem eira, nem beira, nem norte; os sem rumo ou à beira da morte.

 

Mas, na vida, o que significa projeto?

 

Projeto existencial é justamente o que a palavra diz, em sua etimologia: ação de lançar-se à frente; estender-se; jogar-se; ejetar-se; ir à frente; arremessar-se no espaço e no tempo para, assim, fazer, construir, concretamente, alguma coisa.

 

Até quando dormimos realizamos projetos. Por isso que os sonhos, mesmo os não lembrados, nos projetam para situações inusitadas, ou incompreensíveis, mas que servem para desobstruir, limpar, resolver, por sinapses, problemas que nos ocorrem durante o dia, fiéis reflexos simbólicos do que ocupa nossas mentes, corolários de nossas alegrias ou nossas angústias recônditas, medos e desejos.

 

Mas isso é tema para outra crônica! Vamos ao que interessa: o que a segunda-feira tem a ver com projetos?

 

Imagens clássicas de projeto podemos verificar nas modalidades esportivas: saltos ornamentais, saltos horizontais (à distância, triplo), saltos verticais (altura e com vara), arremessos e lançamentos (peso, martelo, disco, dardo), corridas (curta distância, velocidade, longa distância), o chute no futebol, as cortadas no volei, os saques no tênis, os arremessos no basquete, etc. Enfim, há uma infinidade de imagens desportivas para caracterizar o que se deve ententer por “projetos”.

 

Para mim, as imagens que mais demonstram o que chamo de “projeto” é o jogar-se, em voo livre, no louco e exuberante infinito de um espaço qualquer, como os saltos de paraquedas, saltos em parapente, saltos de pêndulos, bungees jumps, e outras loucuras semelhantes.

 

Na verdade, as loucuras que desafiam nossos limites é o que nos faz compreender a nossa ínsita natureza, qual seja, a de seres vivos. Isso mesmo, somos seres vivos na medida em que nos desafiamos em nossos limites. E isso se dá na medida em que nos projetamos, damos um passo à frente, ou seja, definimos e construímos nossos projetos.

 

O pensador que melhor definiu a existência humana foi Martin Heidegger (Filósofo alemão, 1889-1976), facilitando para nós a compreensão de que o ser humano é, essencialmente, “projeto”.

 

Ou seja, em sua existência, o ser humano é um ser jogado (projetado), sem manual, receita ou bula, no mundo (é um “Ser-aí”), e estando consciente de sua condição finita (um “ser-para-a-morte”), ele se realiza como um ser autêntico na medida em que está, inexorável e determinadamente, destinado a “Ser” no “Tempo”, ou melhor, “projetar-se” nas condições e limites que lhe são oferecidos a priori: "tempo" e "espaço". SER, portanto, é TER PROJETO!

 

A partir disso, posso concluir que tanto mais o ser humano será autêntico (digo, ele mesmo!), na medida em que deixar as ilusões do mundo construído na ilha de fantasia do fim de semana, para encarar, de frente, os desafios de projetar-se na vida concreta da segunda-feira: acordar cedo, trabalhar ou estudar, pegar ônibus, enfrentar o trânsito, pagar boletos, se livrar de bandidos, ouvir noticiários, bisbilhotar a vida alheia nas redes sociais, se entristecer com isso, ter esperança de uma vida melhor, ter fé em si mesmo, fazer alguma coisa de bom, justo e útil, e, assim, compreender que a vida não se resume a mentiras do fim de semana, mas no concreto enfrentamento da dura verdade da imagem refletida no espelho, enquanto se penteiam os últimos cabelos que ainda restam.

 

Um bom projeto e uma boa segunda-feira a todos!

 

 

 

Crédito da imagem:

https://hqscomcafe.com.br/2022/06/30/situacoes-do-cotidiano-que-deixam-qualquer-um-maluco-top-5/