Autoajuda

Tenho a impressão de que a literatura de autoajuda tem sido demonizada no meio acadêmico não obstante encher os cofres dos magnatas do estilo (com todo o respeito). Ressalve-se que forrar os bolsos de dinheiro honesto nunca fez mal a ninguém). Parece não ser chique e intelectualizado incorporar ensinamentos desse gênero literário em nossas vidas por ser clichê, banal, ou, como Renato Russo indagava em sua letra, “quais são as palavras que nunca são ditas?”. Praticamente tudo já foi dito, apenas com roupagens diferentes. Em outras palavras, esses livros não são o Ovo de Colombo, mas podem acender uma centelha, creio. Já li alguns livros bem pitorescos sobre o assunto e confesso que na época de “O Segredo”, também o adquiri e li. Pior que isso, fiquei treinando aquelas técnicas. Mas temos que botar fé na receita de bolo torcendo para ele não solar. Meus bolos de autoajuda quase sempre solam, devo ser durinha de abstrair que cada um tem seu caminho para chegar a Roma (já que segundo o velho ditado todos os caminhos conduzem à cidade eterna).

Para mim a gente aprenderia a se autoajudar intuitivamente através da tentativa e erro. Quando paramos de cometer os mesmos erros é que conseguiremos nos ajudar, ou essa seria uma análise simplista? Não foi levando muitos tombos que todo bebê firmou suas pernas e caminhou? Acho que desde a tenra idade nos autoajudamos instintivamente. Melhor formulando, ajudar-se seria correr atrás do nosso sonho sem medir esforços. Como aquele rapaz franzino que treina, treina e treina até ficar com os músculos definidos que tanto sonhou.

Então a resiliência é o nome moderno da autoajuda? Acho que haveria um componente de resiliência sim, pois sem uma boa dose de adaptação à mudança com muita insistência os projetos nunca sairiam do papel como aquelas almas que habitam as profundezas porque ficaram limitados às boas intenções desacompanhadas de atitudes. Milton Nascimento escreveu e cantou também que “ mas é preciso ter força, é preciso ter raça é preciso ter gana sempre”. Mesmo porque nunca houve pódio (nem emprego) para todos os competidores, só para os primeiros colocados.

Então vamos ler livros de autoajuda vez por outra porque nada nos impede (quem apreciar, lógico. Hoje há filósofos que lecionam autoajuda à luz da Filosofia que é uma bênção, acontecem verdadeiras revelações). Há quem diga que alguns desses livros já recebem enfoque psicológico (o que certamente faz a alegria dos donos de livraria e os eleva no ranking semanal dos mais vendidos na categoria não-ficção). Enfim, é bem ao gosto do freguês. Eu, euzinha mesmo, sinceramente penso que somente a tentativa de burilar seus atos através da leitura de um livro ou apenas aguardar que aquela chave gire naturalmente com o amadurecimento já vale demais. Mesmo porque do céu só cai chuva, só colheremos se plantarmos.