A dor do luto e a esperança cristã da ressurreição

 

Abro a Bíblia. O Evangelho Segundo João, capítulo 11, versículo 35, para ser exato. Está escrito: “Jesus chorou.” O texto é bastante conhecido. O contexto também. Jesus chorou, como homem, diante da comoção e do sofrimento de Maria e dos judeus que a acompanhavam por causa da morte de Lázaro. Lázaro morrera havia quatro dias, e as irmãs dele, assim como os amigos, estavam transtornadas, mesmo agora na presença de Jesus, o que se explica pela nossa fraqueza de seres humanos. Jesus, como homem, chorou.

 

É natural que soframos e choremos diante da morte de entes queridos ou de amigos. Chorei ontem por causa da morte do meu amigo e irmão Erisval Moura de Sousa, que faleceu sábado, ou seja, hoje faz quatro dias, mas só fiquei sabendo ontem, já na hora do sepultamento. Não me envergonho disso. Ele era meu amigo. Eu tinha e terei sempre muita gratidão a ele pela sua amizade respeitosa, pelo respeito e carinho que ele devotava a minha pessoa e, principalmente, porque foi ele o responsável pelo meu ingresso no serviço público, há quase quarenta e dois anos.

 

Ele, no dia 17 de dezembro de 1981, uma quinta-feira à tarde, foi à casa do meu tio Hiram Monteiro da Silva, em Xinguara, com quem eu morava, convidar-me para trabalhar na Agência Distrital de Xinguara, popularmente chamada Subprefeitura. A hoje cidade de Xinguara, Estado do Pará, era então um dos povoados de Conceição do Araguaia que tinham Agência Distrital. Erisval era o agente distrital (popularmente, o subprefeito). Aceitei o convite. Fui e fiquei.

 

Anos depois, em 1985, Erisval e sua mulher, Luz Marina de Alcântara Moura, voltaram para a cidade natal, Palmeiras de Goiás, e perdemos o contato por muitos anos, até que eu, já nos anos 2000 (em 2010, para ser mais preciso), os localizasse, pelo Orkut, na rede mundial de computadores. Eles saíram, mas eu continuei. Trabalharia no serviço municipal a partir do dia seguinte ao convite, 18 de dezembro de 1981, até o dia 31 de maio de 2023, quando me aposentaria voluntariamente por tempo de contribuição. Uma vida, pode-se dizer.

 

Uma surpresa desagradável me esperava. Quando os localizei, já estavam divorciados, o que me faria sofrer, sobremaneira, como amigo de ambos. Não gosto de ver casamento acabar. Voltamos, contudo, ao passado na alegria do reencontro e nossa amizade continuou e só aumentou a cada dia. Não obstante a distância física, conversávamos frequentemente pelo Facebook e pelo WhatsApp. Antes disso, pelo Orkut e pelo Windows Live Messenger.

 

Veria Erisval, sem imaginarmos que seria a última vez nesta vida, em Goiânia. A gente nunca imagina que seja a última vez. É sempre assim. Ainda bem, penso. Era a noite do dia 7 de abril de 2017, na formatura em Direito da amiga em comum e ex-aluna dele Nilma Gomes Carneiro, a que assistimos. Depois jantamos na casa dela, na companhia de parentes e amigos, inclusivamente da Câmelha, minha mulher, e da dona Cândida, mulher dele.

 

Ansiava desde então por revê-lo. Pensava até de fazer isso em breve, mas o plano de Deus, o Grande Arquiteto do Universo, que não falha, era outro. Quisera Deus que aquela vez em Goiânia fosse o nosso último encontro nesta vida. Não sabíamos. A Deus toda a honra e toda a glória! Findou-se para ele a lida terreal. Descansou e já está com o Pai. Creio nisso e respeito a quem não crê. Sem problema. Cada um com sua fé ou, ao invés disso, sua incredulidade, descrença, ateísmo ou outro nome que se queira dar, desde que respeite o semelhante.

 

Rememoro as palavras de Maria, ditas em pranto, aos pés de Jesus, logo que o avistou (versículo 32, parte b, do mesmo capítulo): “Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido.” Jesus, como homem, chorou, mas, como o Filho de Deus, ressuscitou ao morto.  Jesus disse (versículo 43, parte b): “Lázaro, vem para fora!” E Lázaro ressuscitou e saiu da sepultura. Vivo! Erisval, que, além de advogado, era teólogo e pastor, está morto, mas ressuscitará. Deus o ressuscitará!

 

“Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens” (1 Coríntios 15.19), ensinou o apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto, o que vale para todos os cristãos. Encerro esta crônica, pois, com a consoladora promessa paulina, que não falhará: “Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem” (1 Tessalonicenses 4.14).