O SAUDÁVEL HÁBITO DA LEITURA

Tempos atrás, a Receita Federal defendeu a taxação de livros, sob o argumento estapafúrdio de que pobres não leem. Não se trata de "fake news", foi notícia em vários jornais e causou indignação nas redes sociais.

Além de ser um atraso de vida, infelizmente leva a uma consequência lastimável: quanto menos leitura o povo tem, mais facilmente é manipulado.

Pobre não lê justamente por que o livro tornou se cada vez mais caro, as bibliotecas públicas na maior parte dos casos estão sucateadas e praticamente não existe um incentivo à leitura para a população.

Ler ajuda a desenvolver a imaginação, potencializa a interpretação de fatos, estimula a memória e o raciocínio, desenvolve a capacidade de argumentação e fundamenta o saber. O educador Paulo Freire já dizia que "É preciso que a leitura seja um ato de amor."

Mas como tornar a leitura um hábito para todas as classes sociais, se a classe mais privilegiada nem sempre costuma ler e para a população mais pobre livro virou artigo de luxo?

Tenho com a leitura uma relação de amor desde a infância. Mesmo antes de aprender a ler, se um gibi caia em minhas mãos, eu imaginava o que os personagens estavam falando. O que eu "lia" nunca tinha a ver com o conteúdo real. Mas já era minha imaginação antecipando o o mundo mágico que a leitura ia me proporcionar. Gibi tambem é cultura: se analisarmos as histórias em quadrinhos criadas pela equipe de Maurício de Souza, elas sempre tinham ou ainda tem um fundo educativo e de concientização para a gurizada.

Nossa família morava na roça, mas ainda assim, sempre tínhamos algo para ler. Fossem os gibis comprados nas idas à cidade ou emprestados dos primos. Ou os textos das cartilhas escolares que reuniam poemas infantis de Mario Quintana e Vinícius de Moraes com textos de Monteiro Lobato. Meus primeiros livros foram Histórias Infantis, de Érico Veríssimo e No Sertão de Mato Grosso, de Ivan Engler de Almeida, que nosso pai comprou na Livraria Cometa, cujo nome existe até hoje, se não estou enganado.

Na casa de um primo, vi pela primeira vez um livro "adulto" que logo despertou meu interesse: Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Com a mudança para a cidade de São Pedro do Sul, tomei contato com as bibliotecas do Tito Ferrari e a Biblioteca Pública Municipal e não parei mais. Meu reino encantado não é uma casa com piscina, mas um sebo cheio de livros das mais variadas idades e com milhares de histórias para contar. Mesmo não tendo um poder aquisitivo elevado, sempre dou um jeito de continuar comprando livros, principalmente usados. Mas não tenho muitos comigo, por que sou partidário da ideia de que livro deve circular.

A notícia da taxação sobre livros é lastimável, o fato de que muitas pessoas preferem as redes sociais do que a leitura é triste, mas nem tudo está perdido:

Embora grandes livrarias estejam fechando as portas nos grandes centros urbanos, a venda de livros através da internet mantém-se em crescimento. E a lista dos livros mais vendidos da Revista Veja apresenta não só os bestsellers do momento, mas também clássicos como 1984 e A Revolução dos Bichos. E livros que de alguma forma refletem sobre a situação que estamos vivendo.

Para quem não pode comprar livros novos ou não tem acesso aos sebos, a Estante Virtual é uma boa opção. Embora o frete muitas vezes seja até mais caro que o livro, a qualidade do atendimento compensa.

O hábito da leitura deve ser incentivado sempre. Já que vão taxar os livros, por que não quebrar esse pré-conceito de que pobre não lê? Por que não desenvolver a ideia das gelotecas comunitárias, incentivando as pessoas a deixarem lá os livros que não querem mais, para que estes cheguem às mãos de quem gosta de ler mas não pode comprar? Por que não criar mais espaços no Facebook e outras redes sociais para troca ou venda de livros? São pequenas coisas que podem ser feitas para que não se perca esse hábito salutar que só nos faz crescer como cidadãos pensantes. Ninguém deseja que se torne um consenso a preciosa frase de Mario Quintana: "Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem."