"A TABICA DA GOIABEIRA" Crônica de: Flávio Cavalcante
A TABICA DA GOIABEIRA
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Coisas do nosso Nordeste que hoje as lembranças me matam de saudades. Mas na época que a ocorrência aconteceu, não tinha nada de engraçado e era doloroso demais. Na ocasião era o único jeito que os pais viam para acalmar os ânimos da criança traquina.
Apesar de saber que a repressão dos pais nos tempos de outrora era um militarismo de uma severidade sem igual, hoje sinto falta daquele tempo e vejo o quão foi necessário para o aprendizado da vida e me tornar a pessoa que sou hoje.
Lembro-me perfeitamente que a surra pelo mal feito era de tabica de goiabeira, (ramo fino no galho da goiabeira). E na maioria das vezes, éramos obrigados a buscar a tabica na goiabeira, para a sessão de surra dada pelos pais bastantes severos.
Nunca ouvi dizer que uma criança morreu ou teve algum trauma por ter levado uma surra do pai ou da mãe. Vejo mais agradecimento do que revolta nessas pessoas que em outrora conheceu de perto a diferença de uma surra com cinturão, sandálias de borracha ou tabica de goiabeira.
A criança tinha que aprender o seu lugar de criança e era obrigada a respeitar, pedir e bênção aos mais velhos fazia parte do dever de casa. Falar palavrão era uma infração gravíssima e se fosse perto dos pais ou pessoas idosas, era imperdoável e o castigo era certo na base da tabica. Essa era a nossa sentença.
Nos tempos atuais, a tabica da goiabeira se aposentou e virou até caso de polícia. As leis errôneas do país, tolhem os pais de repreender os filhos no processo de criação e educação e o resultado é um criadouro de peçonhas degeneradas, vingativas, por conhecer os seus direitos e muitas ameaçam aos pais de entregá-los às autoridades. O resultado dessas leis que protegem o erro é uma geração doente e sem informação. Uma juventude de curto prazo de vida, que a cabeça serve apenas para separar o par de orelhas ou equilibrar a cabeça sobre o pescoço. Uma geração que riscou do vernáculo a palavra respeito e se prevalece das proteções cegas da lei para se acharem os donos do mundo e da verdade, se tornando verdadeiros delinquentes, que a injustiça disfarçada de justiça chama de menor. Esquece, porém, que este desocupado que foi tolhido de se ter uma educação fraternal, hoje, se acha no direito de abraçar a desordem enclausurando seus próprios pais e tirando o sossego de uma sociedade que arregaça as mangas logo cedo para dar um duro na labuta diária para abrolhar o melhor de si para a nação que o rejeita com veemência.
Presentemente todos que experimentaram daquela tabica da goiabeira estão muito bem formados e são verdadeiramente donos de suas casas e responsáveis e morrem de saudades daquela época que não sai da lembrança o ardor da tabica assobiando como repressão de algum mal feito causado quando criança.
No meu olhar crítico, hoje, sabemos o quanto foi importante a educação provinda dos nossos pais e o quanto essas leis sem sentido precisam de uma longa estrada para aprender a dar educação aos filhos deste solo e para isto, ela mesma carece de dar o primeiro passo procurando no vernáculo, o significado das duas palavras principais “EDUCAÇÃO e RESPEITO”.
Flávio Cavalcante