DESAMOR
Certo dia disse Jesus: amai-vos, uns aos outros, como eu vos amo. Mas na realidade dos ditos tempos modernos, a família – com imensa exceção –, desliza no obscuro abismo da incompreensão e tudo segue no caminho oposto ao divino ensinamento do Messias.
Muitos pais e filhos, de hoje, não mais se entendem e nem se amam como os de outrora, e os valores de incontáveis famílias segregam-se; invertem-se velozes e seguem desordenadas por trilhas duvidosas e inimagináveis. Muitos desses filhos são órfãos de pais ainda vivos, pois muitos deles foram concebidos na irresponsabilidade de um amor ilusionado e transitório; amor de larga incompreensão, por isso todos sofrem os dissabores da intolerância e da desunião, esta, muitas vezes regada com o sofrível orvalho efervescente de lágrimas.
A desordem se apodera assustadoramente no núcleo da família e esta adquire toda incapacidade de se autodeterminar.
Muitos pais e filhos trocam ideias opostas aos costumes milenares e se enlameiam num desrespeito mútuo e assustador. São pais que ora relutam para serem amados e filhos que se adentram no desamor sem ao menos assimilarem os dissabores que amargamente lhes afluirão e que, somente, resultarão em tristeza e sofrimento.
Somos a última geração pós-diluviana a presenciar, tristemente, as distorções dos valores e dos costumes primários da família e a primeira a enxergar as sequelas herdadas de Caim: filhos matando pais e pais matando filhos no sentimento mais irracional do malquerer. Chamemos a tudo isso de desfragmentarão do amor. Amor de sonhos inconstrutivos; amor de famílias desamadas que, vergonhosamente, são constantemente noticiadas.
São Paulo, mai/2008