O QUERER DAS CERTEZAS E DÚVIDAS (crônica)
Quero o amanhecer, a alvorada, os primeiros raios do sol pelas frestas da janela. Quero ouvir a orquestra dos pássaros na matinal revoada, enquanto o orvalho dilui-se percorrendo pétalas de rosas do meu jardim.
Não quero parar no tempo do novo dia, e não posso estacionar ou envelhecer além do branco dos meus cabelos e da minha vontade de viver a cada segundo. Quero ver o meu corpo envelhecer, mas chamando a atenção dele para que jamais se esmoreça: Para morar nele necessito ser jovem e ele para me hospedar tem que se rejuvenescer.
Preciso de ação, correr pelas obrigações, prestar atenção nos primeiros bons-dias e respondê-los com sorrisos largos.
Não quero do novo dia fartas refeições: Prefiro sentir o sabor de poder ter a fome e saciá-la.
Não quero sempre sombra e água fresca: Prefiro, às vezes, tempestades.
A alvorada, envolve o Poeta em mim. Nela me aquieto, nada interfiro, nada peço. Espreguiço-me. Sou contumaz preguiçoso no alvorecer enquanto o Poeta acorda enérgico, fuçando pelo que fazer. Eu, assumo a minha pequenez e o Poeta apenas é, perfeitamente, um poeta. Os pássaros algazarram-se no banho pelos primeiros raios do sol e eu vou sorvendo o meu café, bocando pãezinhos, lambuzando-me de bolos. O Poeta, por sua vez, prepara-se, agita os sentimentos que reinam no meu físico e mente, e molda o meu espírito todos os dias para eu enfrentar os dias todos.
Ele, vive a sussurrar à minha alma seus segredos. Provoco-o:
— Poeta, o que o faz despertar com tanta energia?
Responde-me sem pestanejar, poetando as frases como se estivesse no batel da vida em águas plácidas:
— É pela poesia que percorre tudo, incansavelmente. Nada pode ser negligenciado. A sua vontade amanhã estará ao seu prazer novamente, enquanto, os poemas não aproveitados na inspiração, expiram-se de vida em segundos.
— Poeta, o que sussurras à minha alma? Todos os dias!?
— Uma única oração! Peço-lhe sabedoria de como usar as palavras. Todos os dias os sentimentos vestem-se de palavras, apenas palavras de dicionários com seus significados. Mas, os dicionários não têm sentimentos. A vida, sim!
Então...
Eu compreendo o jeito de ser do Poeta em mim... Quando, a alvorada envolve-o eu fico quieto, em nada interfiro, nada lhe peço. Vou apenas vivendo e digitando como sendo o seu fiel companheiro.