O CAIXÃO
Ronaldo José de Almeida
Andrelina estava impaciente, olhava o relógio a todo instante, ia seguidamente à janela, afinal Eunício nunca se atrasara em mais de dois anos de negociações.
Finalmente o rapaz chegou e, discretamente, pediu desculpas pelo atraso, o qual justificou ter sido devido á um acidente de trânsito.
Em seguida, a moça apanhou uma maleta e disse ao rapaz:
-Eunício, estou com um pequeno problema, minha irmã Goreth e seu namorado chegaram ontem à noite e estão hospedados aqui em casa, será que poderíamos levá-los?
- Olhe, Andrelina, como você bem sabe, devemos ter a maior discrição, se houver conversa quem perde é você.
-Pode ficar tranqüilo, não haverá conversa nenhuma, eu garanto.
-Então, tudo bem, eles podem até participar da cerimônia e ganhar um pequeno cachê, disse o rapaz.
Em seguida foram para uma mansão nos arredores da cidade, adentraram o palacete onde Eunício os mandou aguardar.
Andrelina, já íntima do local, dirigiu-se a um quarto e por lá ficou.
Meia hora depois, o rapaz chamou Goreth e seu namorado pedindo-lhes que entrassem na sala e não falassem nada, apenas aguardassem os sinais.
No enorme salão de luz e música ambiente, ricamente decorado, encontrava-se um senhor velho numa cadeira de rodas. De repente surge Andrelina totalmente nua e de saltos altos, desfilando.
A luz néon refletia-se no seu corpo branquíssimo dando-lhe uma aparência andrógina. O velho olhava o desfile da moça, totalmente extasiado. Aquela cena durou aproximadamente quinze minutos.
Em seguida, Eunício retirou uma capa de veludo negro, descobrindo um caixão de defunto o que causou espanto no casal convidado.
Logo depois, Andrelina, em compasso ritmado, dirigiu-se ao caixão e deitou-se nele.
O velho senhor acionou sua cadeira de rodas e aproximou-se do caixão. Eunício acenou para os convidados que também se acercaram, fazendo companhia ao velho.
Todos olhavam para Andrelina que parecia morta.
Lá estava o corpo nu e escultural muito branco, adornado pelos lindos e negros cabelos; mesmo em arremedo de morta, o encanto e a beleza não se desvaneciam.
Eunício entregou a cada participante uma cesta de pétalas de rosas vermelhas para espalharem sobre o corpo nu da moça.
Em seguida o velho que a tudo via extasiado, fechou os olhos, cerrou os punhos, deu um suspiro num longo deleite sexual.
Eunício retirou-se junto com o velho para um quarto onde permaneceu por alguns minutos, ao voltar entregou um cheque a Andrelina, já recomposta e pagou em dinheiro aos dois visitantes, recomendando muito segredo.
São as voltas do mundo, a degradação moral, ato impróprio de quem é sensato; mas existem, basta olharmos em volta.