Aconchego
Não é que eu goste de falar sobre mim, mas gosto... gosto de escrever sobre algumas coisas que se passam pela minha mente, tolices que me sustentam, vivências, dizê-las me faz um bem imenso, sem me importar com o externo, opiniões contrárias ou favoráveis, tampouco obter plateia, primeiro porque não sou cronista, não sou escritora, muito menos poeta...
sou uma mulher que nunca sofreu na vida, não do tanto que muitos sofrem, nunca tive problemas, pois todos os que vivi, tiveram soluções, e nem sempre andei lamentando a minha sorte, pois se posso chamar de sorte ter três filhos maravilhosos, eu chamo mesmo é de bençãos divina, não tenho queixas, só tenho a agradecer.
Só que no percurso do destino, a vida me deu umas imprensadas muito loucas, houve alguns momentos em que julguei não resistir; resisti firme, o incentivo maior sempre foi o amor que tenho por cada um deles, vivi situações em que precisei ser muito forte para chegar aonde eu queria, e uma vez chegando... não preciso ficar remoendo, amargando a vida, agora é só vitória, é comemorar a chegada ilesa da minha alma, sem precisar de recursos químicos para dormir, apenas deitar, fechar os olhos sonhando, e ao dormir outros sonhos continuar...
em meu recanto particular - que chamo paz interior, reina uma paz que me devolve a consciência em muitos aspectos, um deles é saber que faço parte dessa vida, e que me restou esse tempo para apreciar a beleza natural das coisas mais simples, habito onde a minha alma quer estar, ela sempre se encaminha para a casa da poesia, um lugar humilde e aconchegante, para se chegar lá, é preciso antes de mais nada, desarmar-se e encontrar o caminho certo, sem se importar como está o clima, às vezes é até melhor quando o dia está chuvoso, com um céu nebuloso, daí deixamos para trás, opressões, lamentos do mundo, vamos rumo ao nosso refúgio... o lugar mais desejado que é, eu e minha alma, formamos uma dupla imbatível quando chegamos!
Um passarinho ali, e seus ninhos, o ruflar do beija-flor mais ali, uma flor, outra flor, o cheiro de mato, quando amanhece, o canto do galo é o despertador, não tem jeito melhor de despertar, basta abrir uma janela e assistir o espetáculo da natureza, a gente esquece da vida na cidade grande, nem deseja voltar tão cedo.
Ali?
Eu poderia morar para sempre, a casa da poesia é o lugar mais simples e mais bonito, por nenhum outro lugar trocaria a magia e doçura e de encanto e tanta beleza, são tantas coisas para se ver e fazer, nos arredores, o dia passa rápido, por detrás das montanhas verdes cobertas de poeira de nuvens, o sol vai embora cedo, trazendo logo a noite, num friozinho gostoso, o melhor de tudo é não haver a preocupação de encher portas e janelas com grades de ferro, nem travas, pois a tranquilidade reina na casa da poesia, ali a gente descobre que ainda existe um jeito maravilhoso de viver com a verdadeira alegria, um misto de felicidade e gratificante melancolia.
Um dia desses vou me mudar de vez, ficar mais perto das nuvens, olhar os tons do verde, tentar de ouvido, e com os meus olhos fechados, adivinhar qual pássaro está cantando mais alto, e depois se perder com o alvoroço misturado dos diversificados cantos. A casa da poesia não tem riqueza maior do que o próprio aconchego.
Liduina do Nascimento