Os relacionamentos

Jocenir Barbat Mutti

Dez/07

No final da década de oitenta, objetivando entender as causas das guerras que proliferavam no mundo, resolvi criar um caderno de recortes de notícias de jornais e anotações sobre os principais eventos bélicos que a mídia propagava. Hoje, examinando aquelas notas, constatei que a estigmatização mútua de povos resulta de agressões e revides passados, uma causa importante do agravamento das grandes desavenças entre nações. Em alguns casos, a quantidade de revides foi tamanha que virou ódio imutável.

Nós, seres humanos, temos esse traço acentuado. Costumamos rapidamente carimbar os outros, basta constatarmos no próximo algo em desacordo ao nosso manualzinho de certo e errado. Porém, quando o convívio entre as pessoas é diário, é necessário paciência para fazer uma análise sob diversos ângulos. Essa posição evitará rotulações equivocadas.

Algumas vezes já caí feio do cavalo, tendo que modificar aquela primeira rotulada. Por vezes isso desencadeou um sentimento de vergonha muito grande, mas o estrago já tinha acontecido. Vem a pergunta: Quem sou eu para julgar o outro? Ou mesmo: que feio estigmatizar alguém! Pode ser, mas nós somos assim. Você, querido leitor, também não é diferente... Mas é preciso estranhar os rótulos inflexíveis por meio de uma reflexão criteriosa e aberta a mutações, que se possa enxergar nos outros outras coisas, desmanchando os rótulos.

No livro “Meus demônios”, de Edgar Morin, saquei a profundidade com que o autor penetrou nos processos de estigmatização. Ele faz a seguinte citação de Pascal:

O erro não é o contrário da verdade, ele é o esquecimento da verdade contrária.

É muito perigoso enquadrar o outro dentro dos nossos próprios conceitos, esquecendo a perspectiva do outro. Resta não ser radical, não ser o dono da verdade, examinar muito o que foi carimbado como errado, saber que existem muitos e não um só caminho, como disse o poeta:

Caminante no hay camino, se hace camino al andar.

As estigmatizações entre as pessoas são uma pedra nos relacionamentos.

Jesus Cristo pregou o tratar o próximo como a ti mesmo. O problema é que às vezes eu não gosto do outro por ele carregar os meus defeitos. Aí, eu tenho que aprender a gostar de mim.

Nós aprendemos, falamos, pensamos, escrevemos (que nem eu aqui neste texto) muitas coisas, tentando melhorar, mas algumas vezes não conseguimos. Daí a rejeição aos outros. E dos outros para conosco! E nós com os outros! Os outros conosco! E assim, uma bomba para lá, outra bomba para cá...

Israelenses e palestinos sempre que se bombardeiam têm uma questão de honra imediata para justificar o ataque, mas a causa das desavenças é milenar e bem profunda.

Deixo duas perguntas no ar:

_ Quando vai acabar a guerra entre judeus e palestinos?

_ Quando o ser humano vai parar de carimbar?