SEGUNDA GERAÇÃO PARNASIANA 2

AULA DE PORTUGUÊS

Nelson Marzullo Tangerini

Em crônica do livro “Nestor Tangerini e o Café Paris”, publico um soneto de Tangerini e outro de Luiz Leitão, dedicados a uma deusa, a Salomé de Niterói, que costumava exibir suas curvas pelas ruas da Cidade Sorriso, então capital fluminense, naquela “belle époque”.

Os dois sonetos discorrem sobre o mesmo assunto, “Quando ela passa”, pois, como se sabe, os dois poetas combinaram de um fazer paródia do trabalho do outro, em alguns momentos.

Trago, aqui, nesta crônica, mais dois sonetos da dupla, comentando uma aula de português para alguma deidade.

Na sequência, os versos de Luiz Leitão e Nestor Tangerini:

“ANALISANDO

Sei que conheces bem a língua portuguesa.

Vamos analisar um pouco uma oração.

Aí tens: “O amor domina o nosso coração”.

É um trecho bem comum, de máxima clareza.

Vamos, dize o sujeito e dize com firmeza.

- O sujeito é: o amor. – Muito bem. Atenção!

O predicado, agora. – O predicado? – Então?

- O predicado: domina. – É exato? Tens certeza?

- Tenho. – Pois bem; e é só? Não falta um complemento?

A aluna, vacilando um rápido momento,

Responde-lhe em seguida, ébria de emoção:

- Para completar um sentido perfeito,

Ela diz, pondo a mão de leve sobre o peito,

Falta o objeto direto: o nosso coração!”

e

“ANÁLISE AMOROSA

- Professor e Aluna -

- Vou propor-lhe um conceito em língua portuguesa.

Escreva: “O amor domina o nosso coração”

É um período singelo e de muita clareza.

Encerra, senhorita, encerra...? - uma oração.

- Começou muito bem, minha gentil princesa.

Qual o sujeito e agente, agora? – “O amor”, pois não?

E o predicado em si? – “Domina”. – Tem certeza?

“Domina”, sim, senhor, “domina”. – Tem razão.

Está faltando, pois, falar no complemento,

que vem a dar sentido ao verbo e ao pensamento,

inteirando, afinal, nossa proposição.

Que está restando, então, para dar ao conceito

um sentido integral, um sentido perfeito?

- O objeto direto: “o nosso coração...”,

Publicado no jornal ENTRE AMIGOS Especial – Para a eternidade – Nestor Tangerini – Ano I – No. 3 - pág. 2 – Editor: Vilnei Kohls – Porto Alegre – RS - maio/junho – 1999, e no livro “Humoradas, Sonetos Satíricos de Nestor Tangerini”, Editora Autografia, Rio de Janeiro, RJ, 2016.

Satíricos dos bons, os dois irmãos - em poesia -, eram seguidores da tradição satírica em língua portuguesa. Naqueles anos, década de 1920, Leitão e Tangerini lideravam a Roda do Café Paris, que, na verdade, era uma plêiade de ótimos versejadores, uma constelação, enfim, como a Via Láctea, que nunca haverá de se apagar.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 19/06/2023
Código do texto: T7817518
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