Crônica da chuva II: a enchente

 

Chuva chuva chuva chuva chuva. Anoiteceu, madrugou, amanheceu e a chuva continuou caindo no telhado, escorrendo e pingando na laje da calçada. Chuva chuva chuva chuva chuva. Ritmo monótono, compasso fixo, só mudou o andamento: de adagio à allegro ma non troppo. Chuva chuva chuva chuva chuva. A TV informando quedas de barreiras, inundações, desabrigados, é a enchente pelo Rio Grande. O litoral norte banhado pela água salgada do mar e tomado pela água doce dos rios. Santo Antônio da Patrulha, Maquiné e Caraá clamando aos céus proteção da chuva que dele vem. Chuva chuva chuva chuva chuva. O motorista do táxi disse que aqui não alagou porque aqui não tem morro e a terra estava muito seca e chupou toda a água. Chuva chuva chuva chuva chuva. A senhora da lancheria disse que o Jacuí é grande, mas que quando a água vier lá de cima pra cá, pode... sei lá! Chuva chuva chuva chuva chuva. Desde quarta-feira à noite é chuva chuva chuva chuva chuva. Ritmo monótono, compasso fixo, só mudou o andamento: de adagio à allegro ma non troppo. Chuva chuva chuva chuva chuva. Sem intervalo, sem pausa. Quando será a coda? Chuva chuva chuva chuva chuva. Sem trégua.

 

Meio dia a chuva parou. Coda, finalmente! Após duas noites e um dia e meio de sinfonia hídrica! Os cachorros saíram da casinha e defecaram na calçada. Os gatos foram dar uma volta pelo pátio. Agora parte o ciclone extratropical e vem a frente fria. Preparem os agasalhos. Contudo, o inverno ainda não chegou, foi tudo apenas ensaio outonal...

 

Um bom final de semana para todos. Cuidem-se, vacinem-se, vivam e fiquem com Deus.