A escritora e amiga
Ontem foi o lançamento do meu terceiro livro" Dolores e Taís: escolhas ou destino? Ed. Sete Autores". Convidei uma amiga para falar sobre a autora e ela ne surpreendeu com este texto que compartilho:
Faz aproximadamente 11 anos que eu conheço a Márcia, provavelmente menos tempo do que muitos dos presentes aqui hoje.
A gente se conheceu na UFMG em 2012, quando cometemos a “ousadia” de fazer o ENEM e ingressamos no curso de Filosofia.
Foram anos intensos, entre montanhas de leituras, muitos apertos, risadas e conversas. Fomos mergulhando em um oceano inimaginável e poderoso e ao nos aproximar, criamos uma pequena egrégora, junto com algumas outras colegas: Rose, Tereza, Camila aqui presentes.
Filosofia para quê, muitos diriam...
Buscando algo significativo que eu pudesse trazer aqui para este momento, encontrei um pequeno trabalho que Márcia e eu fizemos no primeiro semestre da faculdade sobre o significado do título “Amor” para um conto da Clarice Lispector. Resumidamente, este conto dos anos 60, relata um dia na vida de uma dona de casa que “evolui de uma aparente sensação de normalidade e conforto vividos pela protagonista até transformar-se em uma enxurrada de sentimentos, para finalmente e deliberadamente, serem recolhidos novamente para não haver “perigo de viver””, segundo nossas próprias palavras. Ainda que timidamente, consegui encontrar nesta tarefa escolar a resposta de “para quê filosofia”?
Prosseguindo com as nossas próprias palavras, “existe um mal-estar, o questionamento da vida ordenada, da vivência do cotidiano socialmente validado... e a autora desenvolve a partir daí, uma visão do amor como sentimento desnorteante, que faz o bonde sair dos trilhos e a sacola romper-se e espalhar-se pelo chão, dando a entender que assim é o pulsar da vida, com suas contradições e surpresas”.
Observo ao longo destes últimos anos, esta busca da Márcia como escritora. Seus livros canalizam exatamente o seu questionamento sobre a vida, sobre o cotidiano “socialmente validado”. Ela esmiúça sem pudor esta sacola rompida e espalhada pelo chão em todas as suas contradições e surpresas, assim como é o pulsar da vida para quem se atreve ao mergulho.
Então, penso que a filosofia se tornou isto para a Márcia: uma ousadia inicial transformada na ousadia de se expor através de seus livros e textos diversos, trazendo para o leitor um certo espanto e desconforto, mas também para quem for mais atento, a possibilidade de descobrir uma doçura que é destilada como um tesouro, assim como a Márcia entrega em sua vida particular (ou real).
Olhar o “mesmo” com olhos diferentes e atentos, espantar-se, ressignificar uma experiência ou uma definição, nada mais é do que fazer filosofia. E isto nós encontramos em suas publicações e na própria convivência, da qual sou muito feliz de fazer parte.
Inês Maria Café de Castro
15/06/2023