Mudanças são necessárias e bem vindas. Quem não muda é porque não viveu e não está vivendo intensamente. É uma pena que a imaturidade e a juventude não nos deixa descobrir isso cedo. A arrogância e a sede de viver que temos quando jovens, nos faz passar por mudanças incessantes sem parar para refletir sobre o que realmente queremos ou quem realmente somos. A vontade de sermos aceitos pelos outros nos transforma em produtos de uma sociedade preconceituosa e que hoje está precária e doente.

         A maturidade termina sendo responsável de nos mostrar nossa real essência, normalmente pelo sofrimento e o fracasso. Por outro lado o sofrimento e o fracasso são importantissimos em nossas vidas. Ninguém passa nessa vida imune ao sofrimento e o fracasso. O sofrimento vem, às vezes, de maneiras bem simples como uma dor, o medo ou  as limitações da idade, mas ele vem e temos que encará-lo de frente para que possa ir embora ou pelo menos aprendamos a conviver com ele. A nossa existência na terra é um eterno aprendizado, uma crua que temos de carregar porém Deus não manda nada que não possamos lidar.

         Passei a minha vida intoxicado no corpo, na alma e em casa. Hoje celebro a minha desintoxicação. Cheguei a conclusão que eu mesmo me sabotava e minha casa estava impregnada de toxinas. Castigava meu corpo com compulsão alimentar e sedentarismo, minha alma guardando mágoas, rancores, ressentimentos e para fugir da realidade comprava tudo que via pela frente, acreditando que tudo era essencial na minha vida. O resultado disso? Cansaço, depressão, baixa auto estima e minha casa cheia de energias negativas.

         Um dia finalmente dei um basta. A primeira coisa que tive de fazer foi me encarar. Dizem que só mudamos quando realmente queremos e é a mais pura verdade. No meu caso foi o querer somado a necessidade e não foi fácil. Admitir que estava fazendo tudo errado foi muito doloroso, mas foi crucial para começar a mudar. O desapego é a terapia mais rápida e mais barata. Desapego material, emocional e cura do corpo e da alma. É como largar um vício: um dia de cada vez. Largar velhos hábitos, jogar fora o supérfluo, mágoas e ressentimentos é uma tarefa herculéa. Descobri que tenho que me amar para que outras pessoas me amem. Durante toda a minha vida fui levado a achar que eu tinha de ser o que outros esperavam que eu fosse.

         O amor pode ser assustador. A vida pode ser assustadora e nos mostrar uma serie de riscos: os que você assume, os que você não assume, os que desejava ter assumido, mas talvez o maior risco de todos é se permitir se soltar, libertar-se do passado e viver o presente para colher nosso próprio amanhã. Por ser gay, pessoas esperam que eu não tenha nenhum preconceito. Como não? Todos nós temos preconceitos e a forma como lidamos com eles é que nos diferencia das pessoas que pregam e vivem a intolerância e o ódio. 

         Posso dizer que criei um novo eu? Não. Apenas melhorei o velho e ensinei-o que não posso controlar o que os outros pensam, falam ou sentem a meu respeito. Vou viver a minha vida como eu quiser porque ninguém paga as minhas contas, ninguém vai sofrer, chorar ou morrer no meu lugar, então, hoje faço o que é bom para mim e o que me faz bem. Quem realmente me amar, vai entender.

José Raimundo Marques
Enviado por José Raimundo Marques em 15/06/2023
Reeditado em 15/06/2023
Código do texto: T7814673
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.