Enxaqueca (Migrânea)

Só quem já passou por um episódio de enxaqueca vai saber a dimensão do que falo.

Acredito que alguns tipos de dor de cabeça sejam piores e mais fortes.

Mas a enxaqueca envolve uma gama de sintomas, cada um mais horroroso que o outro.

O neurologista me disse que ela envolve mais de quatrocentos sintomas e cada pessoa tem vários deles. Que algumas têm o episódio até sem dor, sentindo outras coisas.

Eu fui, lamentávelmente, acometida pela forma clássica do que chamam também de migrânea. Minha crise começa com as estrelinhas na frente do campo de visão, o que chamam de aura da enxaqueca, que dura cerca de vinte a trinta minutos. Só depois que esta aura desaparece a dor começa em cima de um dos olhos e então parece que a órbita vai pular de tão intensa. Depois vem o formigamento nos pés, nas mãos, couro cabeludo, nos braços, nas pernas. E vem um mal estar intenso, parece que o corpo todo fica desestruturado, abalado, enfraquecido. Cheiros, claridade e barulho torturam. Parece que pioram ainda mais a crise.

É algo tão ruim que parece que jamais se vai sair daquela situação. A vontade é de desaparecer e só voltar depois que tudo acabar.

Desde o início da adolescência eu tenho esta coisa tão chata e terrível que diminui a qualidade de vida. Por alguns anos passei sem ter as crises, depois voltaram com tudo.

Várias vezes já tentei fazer tratamento preventivo. Mas como diz um amigo, que conhece bem o problema, quando a crise quer vir não há nada que impeça.

Além do mais, a maioria dos tratamentos preventivos são feitos com antidepressivos ou anticonvulsivantes e estas classes de medicamentos sempre me deixam mal e com muitos efeitos colaterais e por fim optei por nunca mais tomá-los.

Hoje as crises não são tão intensas como eram na adolescência que me deixavam literalmente nocauteada e acamada por um dia inteiro e às vezes até três. Lembro que minha mãe me colocava em um quarto escuro, depois de me medicar, e eu lá sozinha penando com a dor, os enjôos, que na época eu tinha, e com todo o mal estar. E ela mandava eu tomar boldo (que horror). Hoje não gosto nem de sentir o cheiro e tenho horror de deitar no escuro quando estou nas crises. Fiquei totalmente traumatizada.

Aprendi a lidar com esta minha companheira indesejável e quando ela chega eu já tomo o analgésico aos primeiros sinais, assim quando as estrelinhas vão embora e a dor vai começar o analgésico já está agindo e a cabeça dói apenas de leve, mas o resto dos sintomas sempre chegam.

Aprendi também a não deixar que ela me leve a nocaute. Aprendi a trabalhar e a fazer qualquer coisa normalmente durante os episódios. Mas uma ou outra vez ela me pega de jeito e eu fico bem mal, algumas vezes chegando até a desmaiar por alguns instantes.

Mas depois de tantos anos eu convivo com ela e vou levando. E ela some por um tempo me deixando feliz e até pensando que ela desistiu de mim, mas aí, de repente, ela volta e fica por muitos dias me tirando do sério. E vai novamente embora.

Estes dias ela está por aqui. Não tem hora pra chegar. Seja durante o dia ou durante a noite. Mas sei que daqui uns dias ela vai despedir e se ausentar por uns meses.

Vou convivendo com esta companheira que preferia não ter, mas não adianta lamentar.

O jeito é conviver com ela da melhor forma possível e torcer pra que ela um dia desista de vez de mim.

Nádia Gonçalves
Enviado por Nádia Gonçalves em 14/06/2023
Código do texto: T7813775
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