Eu, Ivan e as Formigas

Quando eu era criança, em tenra idade, algo como 7 ou 8 anos tinha fascínio por formigas. Não só eu mesmo, mas também meu primo que tinha a mesma idade que eu, acho.

Nosso passatempo preferido era observar como as formigas se comportavam. E, ficávamos horas apreciando a comunidade das formigas. Elas se enfileiravam carregando pesos muito superiores aos próprios pesos até uma cavidade no solo: o formigueiro. Naquela época, ainda morávamos numa casa que tinha quintal de terra onde nossa avó cultivava umas plantas de chás e para benzer as pessoas que a procuravam com mal olhado e espinhela caída, outras com mordidas de aranhas caranguejeiras, onde, além da “benzeção” com as plantas, meu tio tocava no violão “o sete”, um mantra em solo que até aprendi com o tempo, herança de meu bisavô que foi passando por gerações.

Nada a ver, mas agora voltando às formigas, lembrei-me de Ivan Lins (não era o mesmo Ivan, primo da minha infância), na música onde cantava “Avisa o formigueiro, vem aí o Tamanduá!”. Acho que ele devia gostar de assistir o desenho ou cartoon “A Formiga e o Tamanduá”. Muito legal.

Bom, mas voltando... às vezes, a gente se deleitava a perceber que algumas formigas eram “encarregadas” de desobstruir o caminho para que as outras passassem com o carregamento em direção ao que achávamos ser o depósito ou o formigueiro. E, para não deixar as trabalhadoras no anonimato realizávamos o batizado delas, atribuindo-lhe nomes que lembro até hoje, mas prefiro nem dizer. Evidentemente, todas eram gêmeas, então os nomes duravam instantes e depois não sabíamos mais discernir quem era quem.

Era curioso ver a organização delas para um fim comum. Era aquelas miudinhas. Quando surgiam as graúdas, chamadas de “saúva” eu tentava capturar e aprisionar numa caixa de fósforo vazia. Parecia que elas vinham para estragar o formigueiro e desfazer todo o trabalho que aquela legião de formigas miudinhas vinha fazendo por muito tempo.

Lembrei-me agora de uma frase que se dizia numa determinada época: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva vai acabar com o Brasil”.

Eu e o Ivan não entendíamos porque as formigas miudinhas não combatiam as saúvas poderosas e não nos conformávamos que parecia que elas esperavam que alguém, no caso, nós as tirássemos de circulação aprisionando-as na caixa de fósforo.

Parecia que elas ficavam pensando até quando nós permitiríamos que as saúvas atrapalhassem a paz e a prosperidade do formigueiro. E nós nos sentíamos felizes quando tirávamos as saúvas de circulação.

Finalizando, não é exagero dizer novamente que “ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva vai acabar com o Brasil”.

((in oefeitodaluacheia.blogspot.com, 05.08.2021))