O poeta e as fanfarronices do labrocheiro fanfarrão
“Nunca mostres o teu poema a um não poeta”, diz Rubem Alves, na crônica “Você tem um furúnculo?”. Bom conselho. Já vi um sujeito labrocheiro menosprezar com acidez verborrágica um grande poeta marabaense, o que deveras me insultou, porque a pessoa desdenhada era um amigo comum e, principalmente, porque estava ausente e não poderia se defender. A crítica tola e totalmente desarrazoada foi feita na ausência e fora de contexto, pois, no momento, nem sequer se tratava da produção literária – por sinal, excelente – do poeta criticado. Falava-se da sua pobreza material, do seu pródigo desapego aos bens terrenos.
Abro e fecho parêntesis para dizer que o adjetivo “labrocheiro” é uma palavra do linguajar nordestino. Significa desleixado, desmazelado, pessoa involuntária ou inocentemente grosseira. Faço o registro pelo amor que devoto a minhas origens, ao linguajar dos meus ancestrais: meu pai era piauiense; minha mãe, maranhense. Eles, aliás, usavam a corruptela “labocheiro”. A forma “labrocheiro” é dicionarizada e também registrada no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, o Volp, um dos meus livros de cabeceira.
O bestão, o labrocheirão, que também é farofeiro, é fanfarrão e, não muito raramente, desborda na sua indecente fanfarrice (sim, estou sendo propositadamente grosseiro com ele), deitou e rolou sobre a miséria do ausente. Disse: “Ah, ele é poeta. É isso e aquilo.” E desandou imoralmente, na sua fanfarronice, desancando o coitado. Se é verdade o que minha mãe dizia sobre o falar dos outros na ausência, as orelhas do poeta, certamente, ficaram em brasa pura por muito tempo. Coitado dele e de mim! Quem tem um amigo como aquele não precisa de inimigos.
Não defendi na ausência o amigo vilipendiado. Não foi por covardia nem por omissão, pois costumo não ser omisso nem covarde. Não o defendi na hora, porque, se o fizesse, a situação ficaria pior, mais feia. De nada ou quase nada adiantaria e, para bem além disso, criaria mais problemas. Havia várias pessoas presentes. Preferi deixar a feiura apenas por conta dele. Conquanto muito aborrecido, fiz que ignorava a desonra feita ao amigo, que também a mim não deixava de desonrar. Creio que meu semblante denunciou-me o constrangimento, mas fiquei calado.
Os anos se passaram. O poeta morreu, ainda mais pobre do que era à época do acontecimento. Infelizmente. Não sei se o farofeiro se lembra do que disse; talvez, não. É quase certo que não se lembre. Quem bate esquece. Quem fala pelos cotovelos não tem memória do que diz. Em situações que tais, é mais sábio e proveitoso ficar calado. É bíblico. Não discuto com malucos, porque não jogo pérola aos porcos. Eles as pisariam e as misturariam com a lama das próprias fezes. Isso, aliás, também é bíblico. Como escreveu Rubem Alves: “Pois é assim: quem foi feito para ser herói não sabe fazer amor.”