O bispo e o jejum

        Dom frei Luiz Flávio Cappio não faz jejum para emagrecer. E muito menos para aparecer; ou para conquistar os votos da região do São Francisco, de olho nas próximas eleições.
        Acho que o Prelado, tão querido naqueles rincões, seria eleito tranqüilamente. E da tribuna dos parlamentos, passaria, co-mo-da-men-te, a defender a integridade  do Velho Chico, sua paixão há mais de 30 anos.

        Mas a política não é a praia de dom Cappio. Para levar avante sua campanha, escolheu o caminho do sacrifício pessoal: jejua e reza. E assim vive há várias semanas, se dizendo disposto a ir até o fim.
        "Não quero morrer, mas a vida do rio e do povo do rio e de todo o sertão nordestino vale meu sacrifício, se tiver que consumá-lo."  Ele disse isto.

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        Ao contrário do que alguns poucos pensam e, maldosamente, alardeiam, o jejum de dom Flávio não é um jejum leviano, chegando a parecer um ato suicida.
        Ele se submete a esse martírio "com um objetivo lícito e definido". E o que é mais importante: em nenhum momento afastou dos seus instantes de sacrifício, a oração. Seu jejum é, portanto, bíblico e não profano.

        Nessa sua santa Cruzada poderia ter permanecido na cidade de Barra recebendo as atenções que são dispensadas aos Príncipes da Igreja. Mas dom Flávio foi autêntico: preferiu se recolher a uma modesta igrejinha seráfica, bem distante do seu bispado, porém às margens do seu querido rio.
        Com isso, quer que o mundo saiba, que, com São Francisco de Assis, o dono do Velho Chico, sua luta é pra valer. E não uma mera encenação, coisa muito comum entre políticos falastrões e oportunistas.
 
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        Não sou teólogo, hermeneuta e nem biblista. Minha intimidade com a Bíblia é limitada; e, portanto, cautelosa. Não gostaria, jamais, de sair por aí dando uma de gato-mestre em assuntos ligados aos Livros Sagrados, que só serão bem interpretados, depois de aprofundados estudos.

       Mas, chateado com as críticas que vêm sendo feitas ao bispo pelo seu jejum, dei uma espiadinha nos dois Testamentos, o Antigo e o Novo.
        Verifiquei que os textos sagrados não condenam o jejum sério, consciente, voluntário. E que são muitos os chamados jejuns bíblicos.

        Dois exemplos. Moisés jejuou durante 40 dias. Neste sacrifício, peia a Deus que não abandonasse o povos de Israel. E foi atendido.

        São Paulo, o maior dos apóstolos, foi outro que recorreu ao jejum. Todos conhecem a história da conversão de Saulo.
        Pois bem, depois do episódio da estrada de Damasco, Paulo, já convertido, "não comeu nem bebeu nada durante três dias" - Atos 9:9. Homem sábio, se jejuou, foi porque encontrou uma justificativa bíblica para seu ato.

        Estou lendo que o Vaticano condenou de certa forma o jejum de dom Cappio. A Santa Sé precisa conhecer  o São Francisco para não confundi-lo com os mal-cheirosos rios que cortam Roma. 

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        Saibam, pois, os maledicentes e os "católicos"  - aqueles mais pre- ocupados com a cotação nas bolsas e com os resultados de licitações, nem sempre realizadas licitamente, algumas nebulosas - que dom Luiz não faz greve de fome, nem pratica o jejum anti-bíblico. 
       Seu jejum é piedoso, tem objetivo nobre e definido.  Por isso é aceito pela Igreja de Cristo. Eu disse de Cristo. 

        E parem de dar entrevistas. Suas respostas e opiniões sobre o jejum mostram vocês como verdadeiros satanases pregando Quaresma. 
     
                
       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 17/12/2007
Reeditado em 12/02/2008
Código do texto: T781313