Na contra-mão da burrice
Meu olhar é negativo, mas realista. Aquele que não é tapado com a peneira para continuar estampado com um sorriso na cara como se tudo tivesse lindo e cor de rosa. O rosa do terno do deputado risonho e asqueroso Clodovil, o ar ridículo do Renan Calheiros e a entrevista da “fogosa” jornalista Mônica Veloso. A imagem medonha que o Brasil traduz. Cansei.
Cansei dos discursos baixos do presidente Mula, cansei de tentar falar inglês no País onde nem se fala português direito, cansei de ter de estar preparada para fazer doações no natal enquanto o Congresso rouba discaradamente os cofres públicos e enchem o bolso de dinheiro. Cansei da porcaria do fome zero, do MST, do PAC, da CPMF, dos EUA, das oscilações do dólar, da taxa de juros, das CPIs, das farpas esquerdistas contra as direitistas, do PSDB x PT, das caras e bocas dos deputados se esquivando de fazer alguma coisa por esse País subdesenvolvido. Cansei até do Movimento Cansei e dos artistas expondo suas caras pálidas nas televisões do Brasil.
Cansei das bundas que aparecem para ilustrar as revistas artificiais, as mulheres com corpos esticados e esculpidos por bisturis, os silicones, as bocas carnudas que fazem um ótimo papel fechadas, as revistas passando 1001 dicas de sexo para “levantar” o astral do seu parceiro, o perfume que atrai o sexo masculino, as posições malabaristas para se achar o ponto G, o G da gaiola onde mulheres ficam presas na vaidade, na burrice fútil do mundo artificial e virtual das dicas de sexo, moda, beleza em cinco minutos e cremes redutores de celulite. Cansei!
Cansei de tecnologia barata e do contrabando das galerias de SP, cansei das propagandas de celulares vendendo a mãe, dos notebooks que despertam, alertam, projetam e vocês nada contestam; das vidas manipuladas por aparelhos eletrônicos e do nervosismo pela perda do controle remoto. Cansei!
Cansei do barulho infernal das buzinas, dos carros, das motos, das bateções de portas e das gritarias das repartições. Cansei do funcionalismo público de merda desse País, da educação chinfrim e das promessas de melhoria que nunca chegam, cansei de cansar de falar e de tentar mudar alguma coisa. Cansei de eleições, discursos pagos e comprados dos políticos mascarados da nossa “falta” de política, cansei das propagandas imbecis que agridem a inteligência humana, cansei do conformismo das pessoas e do comodismo das vidas brasileiras.
Cansei das modinhas, das digitais que registram tudo em tempo real e das pessoas que esquecem de olhar para si mesmas, das futilidades e vidas expostas na Internet, da rotina regrada pelo computador, das comidas enlatadas e congeladas, dos recadinhos on-line, da programação massificada e baixa das tvs. Cansei!
Cansei das bundas de novo, cansei do temeroso Gugu Liberato, Faustão, Fantástico, Raul Gil e o campeão dos campeões: os grotescos namoros na Tv.
Cansei dessa economia que nunca sai do lugar, cansei de ser educada, de "estar esperando" o gerundismo ser esquecido, das filas dos bancos, dos malabarismos com bolas de meia no farol, com os pedintes na rua que poderiam estar roubando, matando mas que estão pedindo! Cansei!
Cansei de ficar presa em casa enquanto a bandidagem está solta, cansei do “Põe na tela, Põe na tela” do Datena, das músicas com rimas pobres, dos estilinhos bizarros que cruzam as avenidas, do ser humano buscar se achar e continuar perdido, do ar podre de SP, dos livros psicológicos em como se tornar mais feliz em uma semana, do aquecimento global, das enchentes no verão, das mentes vazias, limitadas e das dúvidas que cercam os pensamentos sórdidos e ainda humanos...caso ou compro uma bicicleta? Ser ou não ser...
Cansei de escrever sem ler, de falar e não ouvir, de pensar e não falar, de ver e não dizer...de ser e não fazer, de não ser e só me manter.