Olhar poético e percuciente do cotidiano

Gosto de andar a pé, não só na caminhada feita como atividade física, mas também de passear, em pequenos trechos: de casa ao supermercado, de casa à feira livre, e assim por diante. Na feira livre, que funciona de domingo a domingo, gosto de ir no domingo, pela manhã. Apenas para andar mesmo, dificilmente compro coisa alguma. No domingo à tarde, a feira fecha, se não engano, por volta das 14 horas. Nos demais dias (não tenho certeza quanto ao sábado), fica aberta também à tarde, mas o movimento é diferente e bem menor. Ao comércio, vou à tardinha ou à noitinha de vários dias de semana.

 

Se a urgência não me impede, prefiro ir a pé a ir de carro. Não gosto de dirigir e por isso não tenho lá muita vontade de retirar o carro da garagem. Se o percurso é pequeno, para que usar o carro, não é mesmo? Bom é ir a pé, para contemplar, no cair da tarde ou no entrar da noite, a paisagem composta pela arquitetura, a arborização e os transeuntes, estes no seu vai e vem, aparentemente alheios a tudo (será?), rua para cima, rua para baixo (ou rua acima, rua abaixo, tanto faz), para comprar, vender, passear, e assim por diante.

 

Gosto mesmo de andar na rua, à tardinha e principalmente à noitinha, e sentir a brisa do entardecer ou, conforme o caso, do anoitecer. O pôr do sol é sempre muito lindo. Pássaros que, alegremente, procuram local para dormir. Pessoas que, no trânsito frenético, voltam do trabalho. Outras que, diferentemente, vão à escola ou ao trabalho noturno. Outras, ainda, que vão à praça e a outros lugares para passear e se divertir. Tudo, salvo algum acidente de percurso, muito natural no correr banal do cotidiano, mas com efeitos e sensações diversos para o olhar sensível de um observador atento.

 

Uma dentre as muitas coisas que me despertam a atenção é a ânsia de morte da atividade comercial ou prestadora de serviços em determinados pontos da cidade. Hoje, por exemplo, na volta do supermercado, vi que em um ponto bem conhecido vai-se explorar outro tipo de atividade bem diferente da anterior, que, por sinal, começara recentemente. Mudança radical, da água para o vinho. São pontos em que ninguém consegue se firmar, seja qual for a atividade explorada. Começa-se uma atividade hoje e encerra-se daqui a semanas, quando muito, meses. Não se cria jamais fundo de comércio.

 

Conheço alguns pontos, no bairro das Laranjeiras e no da Marabá Pioneira, por exemplo, em que atividade alguma se firma. Nada, de restaurante a clínica de saúde. E são pontos bem localizados, não são lugares ermos. Estranho! Algo muito forte impede o comércio de secos e molhados, a borracharia, o restaurante, a clínica médica ou seja lá o que for de dar certo. Abre, funciona por pouco tempo e fecha. Penso, às vezes, ser a ganância dos proprietários, o aluguel escorchante. Será?  Eles não têm desconfiômetro? Não lhes cai, nunca, a ficha? Quem quer demais fica sem nada.