Ipanema, 1981

Decido que foi um azar não estar presente na Galeria Fórum relembrando a cena com o organizador da coletiva, marchand Rogério Kneip. Percebo o quanto deve ter sido uma noite encantadora a inauguração da exposição no dia 21 de janeiro, às 21 horas do Rio de Janeiro com Ipanema fervendo lá fora. O coquetel reuniu grandes nomes das artes plásticas como José Paulo Moreira da Fonseca, Romanelli, Silvio Pinto, Adelson do Prado, Sigaud, Djalma da Costa, Paulo Marinho e outros nomes de peso da pintura no Brasil. Estava presente Francisco Brunocilla, Paulo Marinho, Adelson do Prado, Wálmi entre outros, todos os amigos da Praça General Osório. Aliás, o que é estranhável nessa praça é que muitos artistas passaram e passam por ali para atingirem grandes leilões. Mais estranho ainda é que raramente vemos na televisão algum enfoque sobre esse ponto permanente de efusão da pintura no Brasil. Sempre que fico conversando com marchand Rogério, mesmo distante hoje do Rio, ficamos horas á fio repassando situações e eventos ligados à pintura brasileira. Com desfile de grandes nomes e alguns que nem eram tão famosos naquele tempo.

O coquetel servido pelo mestre Lourivan de Araújo e sua gentil atenção para com os convidados marcou o encontro de alegria e grande entusiasmo. Ipanema o coração cultural do mundo pulsava na Rua Visconde de Pirajá, 487, loja 102. Nenhum quadro foi vendido na coletiva e todos devolvidos aos legítimos donos. Há algo de sucesso nessa mostra sem nenhum sinal de venda. Algo que parecia natural e vivo no encontro, como um abraço que não envolve nenhuma pretensão, nenhuma presunção. E é esse sentimento que ocupa a alma de quem expõe, mas não vende, quando resulta numa dimensão de um grande encontro entre amigos. O efeito da vitrine é posterior ao acontecimento.

Gosto de recordar com ele as idas e vindas pela Rua do Lavradio, 50 onde me levava aos lugares esquisitos, vagas repletas de cavaletes, telas e tubos de tintas, com figuras que pareciam ter saído do mundo das luzes. Na Sociedade de Belas Artes fui apresentado gentilmente por Rogério a Djalma da Costa em sua simplicidade de um profundo humanismo. Guardo até hoje a lembrança da sua fisionomia paternal e de seus cabelos brancos naquela atmosfera de mestres. Ambiente composto por aventureiros desse tipo de profissão exótica de que é feita a natureza dos pintores.

Na Sociedade de Belas Artes alguém moldava em argila o busto em tamanho natural de Vinicius de Moraes. E havia em tudo um pouco de Vinicius de Moraes como há um pouco de Drummond na narrativa entre irmãos.