NADA COMO UM DIA DEPOIS DO OUTRO.

O celular desperta, exatamente às cinco horas da manhã, salto da cama, olhos arregalados. É preciso o exagero, necessário para quem trabalha no primeiro turno. Levanto-me, e como primeiro ato arrumo a minha cama, dobro os cobertores, arrumo os lençóis, guardo-os, deixo tudo certinho. O segundo passo é separar o crachá, chaves a carteira, deixo-os em cima da cama, outra mania maluca para não esquecer nada para trás. Troco de roupa e vou para o banheiro escovar os dentes, lavar o rosto na água fria. Olho para o meu rosto no espelho, a barba por fazer, pego o barbeador nas mãos... depois de uns segundos, desisto.

Enquanto isso, o meu pai, que também se levanta no mesmo horário que eu, está diante do fogão preparando o café. Mede a água, o açúcar, pó de café, a minha mãe levanta rezando o terço, reclama com meu pai do açúcar que foi pouco e do pó em exagero. Meu pai também reclama, fala que a mãe nunca está satisfeita. Nesse momento, quando eu saio do banheiro o pai entra em sequência para se trocar, eu vou para o quarto fazer minhas orações, depois do meu devocional, voltamos nós dois à mesa. O relógio na parede marca cinco e meia da manhã, meu velho eu tomamos o café acompanhado de esfihas que minha esposa fez, a fumaça bailarina do café tremulando no ar, é o momento de abastecer antes de sair.

Dez para as seis eu saio de casa para o ponto de ônibus, é próximo, coisa de dois minutos, o meu pai continua em casa, sairá depois do que eu. No caminho para o ponto faço outra oração pedindo proteção. O frio é intenso de manhã, o céu ainda escuro, algumas estrelas perdidas aqui e ali. Lentamente, tons mais claros surgem no horizonte, é o dia despertando preguiçoso, as estrelas somem repentinamente, o vento frio castiga a orelha. De repente, o meu ônibus aponta mais a frente, o relógio marcava seis horas.

No ponto está apenas esse cronista desavisado, os demais companheiros ainda não chegaram, certamente que vão esperar pelo segundo ônibus, se não atrasar ele vai passar quinze minutos depois. Entro no ônibus, está lotado, me ajeito entre a multidão, rostos sonolentos, trabalhadores das empreiteiras, alguns uniformizados. Há também um número significativo de estudantes, com suas mochilas, celulares e conversas desinteressantes. Seguimos caminho rumo a fábrica, a cada ponto um ou dois entram, ninguém desce, por enquanto. Somente depois de sairmos do bairro em que moro é que os alunos desceram. Até chegar na fábrica, estou no aperto, somente depois é que o espaço ficará confortável, também não fará diferença.

Cheguei na fábrica dentro do horário, o relógio marcava seis horas e trinta minutos. Um número significativo de funcionários diretos e terceiros entrando apressados pela portaria, uma pequena fila se forma. Eu sou apenas um no meio da multidão, caminho para a rodoviária dentro da fábrica... Sim, temos uma rodoviária dentro da empresa, que por sinal é enorme, é necessário ônibus para chegar nos setores.

Uma vez na rodoviária, o ônibus que me levará para o canteiro da empreiteira aparece, eu mais outros companheiros entramos e tomamos lugar. O dia está claro, segunda-feira preguiçosa, rostos sonolentos, nada como um dia depois do outro, rotina, continuidade que parece não ter fim.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 11/06/2023
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