O Romântico Incurável e a Enfermeira Inatingível

O sol despedia-se lentamente, dando lugar à sua irmã prateada que se adiantava no céu. A igreja de São José do Brás estava em festa, com suas luzes piscantes e o som de risos e canções enchendo a brisa da noite. João, um jovem dentista de sorriso tímido e coração inquieto, estava lá, perdido entre as mesas de doces e bingos de prêmios banais. Foi então que ele a viu.

Maria, a enfermeira da Santa Casa, esbanjava uma aura especial. Seu sorriso podia curar feridas, suas mãos, sem hesitação, tocavam o mais profundo da alma dos enfermos. João viu tudo isso em um olhar, em um sorriso, em um gesto. Foi então que ele soube, estava perdido.

Ele moveu céus e terras, perguntou a conhecidos e desconhecidos, até que, finalmente, conseguiu o contato de Maria. Coração pulsando acelerado, ele lhe enviou mensagens doces, promessas sussurradas na solidão do seu quarto. Ele a queria para a sua vida, como o sol deseja o amanhecer, como o rio anseia pelo mar.

João foi incansável. Presentes, jantares, serenatas sob a lua. Seu amor por Maria era como uma chama que consumia tudo em seu caminho. Mas então, a resposta veio. Aquele temido veredicto que acelera o coração e arrefece o ardor. Maria lhe disse, sem rodeios, que só poderiam ser amigos. Um golpe, certamente, como um punhal no peito do apaixonado.

Ah, que triste realidade! Como os corações são enigmáticos, como o amor é insensato e impulsivo! João, o romântico incurável, havia tropeçado na fria verdade do mundo: nem sempre nossos sentimentos são correspondidos. A enfermeira inatingível havia se mantido em sua torre de marfim, impenetrável, inabalável.

Como o bom Drummond disse, "o amor é grande e cabe no breve espaço de beijar". Para João, o amor foi maior, tão grande que nem cabia nele. Mas o universo tem seus caminhos misteriosos. Quem sabe, no futuro, o destino não o surpreende, trazendo um novo amor, um novo sonho para seu coração sonhador. Porque, afinal, a vida é assim, cheia de encantos e desencantos, cheia de amores que vêm e vão, enquanto a esperança persiste, esperando sempre por um novo dia.

Paulo Afonso Tavares
Enviado por Paulo Afonso Tavares em 10/06/2023
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