Último dia em Subiaco
Sem grandes preocupações, mas já pensando que em breve iríamos embora, fomos acordando lentamente, naquele dia preguiçoso. Após um rápido passeio pelos arredores da casa, percebi que seria mais um dia gelado. A calçada e as plantas estavam molhadas do orvalho noturno. O sol, com certeza, devia estar bem escondidinho, pois nem o seu clarão se via.
Fiquei quietinha, num silêncio absurdo, só quebrado pelo grasnar das gralhas e o canto de outros pássaros.
Entrei mais que depressa em casa, em busca de algo quentinho. Alguns ainda dormiam.
Para os meus padrões, já era bem tarde, mas… Nesse meio tempo, Anna veio dizer que Máximo – um dos nossos anfitriões daquele dia, havia ligado avisando que já vinha nos pegar. A festa seria na casa dele e de Maria Pia, sua irmã. Lá na Rocca di Santo Stefano.
Um grupo de, mais ou menos vinte pessoas, nos aguardava, mas foi chegando mais gente. A alegria contagiante das pessoas mais uma vez nos impressionou.
Não demorou nada, e o banquete começou a ser servido. No antepasto, dentre tantas opções, o presunto cru – especialidade de um dos donos da casa. Uma delícia! E os vinhos, produção de outros dois. E assim passamos o dia todo, saboreando as delícias da Itália, perpetuadas com o capricho no preparo dos pratos e no servir.
Foi se formando, naturalmente, uma extensa mesa só para os mais novos e, outra, para os mais velhos.
Lá pelas tantas, quando o vinho já tinha subido à cabeça, resolveram ligar o karaokê.
Começaram com a música “Feliz Navidad”, o coro ganhou vida, e todos cantavam: crianças, adultos e jovens. Fizemos um trenzinho pela sala gigantesca, e a felicidade transbordava.
Outras canções italianas foram cantadas, por uns e outros, até colocaram “Aquarela do Brasil” e “Taj Mahal”, do Jorge Ben Jor... Para quê! Ficaram incendiados e, para completar, minha filha começou a sambar. Sucesso total!
Assim passamos a tarde na mais pura alegria, cantando, comendo, bebendo e dando boas gargalhadas.
O banquete só foi encerrado à noitinha, com uma queima de fogos e, logo após, foram servidos café, licores, vinhos, panetones recheados, castanhas, chocolates e salame de pistache. Tudo uma delícia!
Assuntos não faltavam e se prolongavam cada vez que se falava em ir embora… as taças de vinho novamente abastecidas garantiam o retardamento.
Mas, como tudo que é bom dura o tempo certo, resolvemos que já estava na hora do retorno para casa. Pegamos os agasalhos, nos despedimos de todos e voltamos.
No caminho, já me sentia melancólica, só em saber que, em breve, teríamos que nos despedir de vez. Pressentindo a tristeza me invadir o semblante, de repente perguntei como seria a programação do dia seguinte, já que não contaríamos com a ajuda da prima Anna. Pegando todos de surpresa, o questionamento foi motivo de boas gargalhadas, e tudo voltou ao normal.
Mal entramos em casa, a prima Anna veio com o esposo e a filha para se despedir de nós, ele, o seu esposo, sairia bem cedo para o trabalho e, segundo ele, jamais ficaria sem nos abraçar.
Tal qual na chegada, rimos e choramos de felicidade.
Assim foram os nossos dias em Subiaco e adjacências.
Tudo perfeito, leve, gostoso, e de um jeito que nunca imaginamos que seria. Por isso foi tão maravilhoso!
Um dia voltaremos, nem que seja nas lembranças.