Chá e bolinho de chuva
O que restaria de nós sem amor?
Amor é que dá sentido à vida.
Afora isso, o que realmente é gostoso na vida são as coisas mais simples. Me lembro, nessas tardes de céu avermelhado, do bolinho de chuva e o chá mate Leão da minha avó. Aquelas tardes eram de uma magia impressionante, os tios na varanda e a criançada degustando a vida correndo pelo quintal.
Às seis da tarde os sinos da igreja, lá no alto do morro, badalavam, era a hora da ave Maria. Minha avó recolhia a criançada à mesa, um tacho com bolinhos embebidos em açúcar cristal,amor e canela fazia a alegria de todos.
Muitas décadas já se passaram e é incrível como aqueles momentos se fazem presentes. Devo confessar que a transição do dia para a noite traz uma certa melancolia,um convite à introspecção.
Na minha meninice, naquela cidadezinha de interior, os mais velhos contavam sobre os mistérios que rondam as noites. Fantasmas e almas penadas pululavam o imaginário. Tudo era magia, a vida apresentava-se infinita e alegremente simples.
Hoje, nos momentos em que a aspereza da vida adulta cobra preços impagáveis, o meu porto seguro está na memória. Fecho os olhos e me vejo sentado àquela mesa. Me sinto abraçado e acarinhado.
Oras, sem dúvida o que dá sentido à vida é o amor. Amor é atemporal e permanece vivo para sempre.
Muitos dos mais velhos da família já não estão mais por aqui, partiram, mas o amor deles permanece vivo.