Minha amiga Kall
Lá nos idos anos 80, eu cursava Serviço Social na PUC MG e trabalhava no Colégio Pio XII como professora do primário. Bom, assim que formei, meu coração me mandou voltar pro Grama, então pedi as contas, voltei pra trabalhar no hospital e lá Deus me entregou uma menina que hoje é minha filha. O tempo passou, minha vida sossegada ali sendo mãe, trabalhando, morando na casa dos meus pais quando recebi uma ligação da supervisora do Pio XII me implorando pra voltar. Ela dizia que já tinham me deixado descansar por 2 anos, que estavam com uma turma da segunda série onde já tinha passado 3 professores e ninguém dava conta. Era Abril e elas precisavam de mim pra domar a turma. Eu explicava que não poderia voltar, pois tinha uma filha pequena, blá blá blá, mas nada convencia. Então pedi um tempo pra pensar e prometi que daria uma resposta no dia seguinte.
Isso aconteceu no dia 17 de abril.
A tardinha como era costume, eu estava sentada na porta da varanda com minha filha quando Kall passou lá na frente da igreja e sem pensar duas vezes gritei por ela e já fui perguntando:
- Ô Kall, cê é doida?
Ela confirmou na hora, pois era mesmo.
- Cê quer ir pra BH dar aula no Pio XII?
- Só se for agora!
- Então nós duas vamos lá amanhã cedinho, tá? Se arrume.
O que eu saiba sobre Kall? Oras bolas, eu sabia o que o Grama todo sabia, que ela era uma fanfarrona, namoradeira por demais e lecionava numa escola na zona rural e isso bastava.
Partimos de ônibus pra BH e lá chegando fomos até a casa da minha irmã onde escolhi um vestido top pra ela, passamos no salão do tio dela e lá amansaram todos aqueles cachos. Ela ficou até bonitinha!!!
Chegando no Colégio a supervisora nos recebeu muito feliz e dizia:
- Eu sabia que você não nos deixaria na mão Mariza e blá blá blá...
E eu respondi:
- Bom, eu não vou voltar, mas lhe trouxe uma muito melhor que eu e garanto o trabalho dela ao ponto de lhe prometer que se ela não der conta da turma eu volto.
A mulher retrucou muito insistindo que não poderiam fazer mais experiências com aquelas crianças. Finquei o pé e no final concordaram na contratação dela. Voltamos pra casa, na segunda-feira o feriado de 21 de Abril e minha amiga começaria na terça-feira 22/04.
E assim foi... e nunca mais me chamaram... Ela deu show lá e cresceu, cresceu muito, fez faculdade, saiu do primário e foi lecionar para o ensino médio e depois de muitos anos foi pra Inglaterra e também depois de muitos anos voltou.
Hoje estamos aqui juntas, ela em BH, eu em Ponte Nova, mas cuidando de nossas mães no Grama.
É assim que as coisas funcionam entre os loucos!