A bengala de metal
Andando pela manhã nas ruas do bairro onde moro, curtindo o sol de outono quase inverno que é uma delicia, de repente paro diante da faixa de pedestre e encontro uma senhora com um carrinho de compra querendo atravessar. Já estava aí há um bom tempo, pois a vi de longe. Ameaçava passar, mas tinha que parar pois alguém com muita pressa andando de carro tomava a sua vez na travessia. Fiquei a pensar. O idoso não teria preferência? Por que agora vários carros ignoravam aquela senhora que só queria ir até a feira comprar suas verduras preferidas? No meu entendimento, ela nem precisaria esperar sua vez. Todos deveria abrir caminho para que ela atravessava em segurança.
Chegando perto dela, dei bom dia. Ela me respondeu prontamente com um enorme sorriso no rosto. Alguém a tinha notado e lhe dera pelo menos um bom dia. A indiferença anda solta pelas ruas, pensei com meus botões. Ninguém dá a mínima para quem já lutou tanto, criou filhos, e agora lhe resta um pouquinho de vida e o mesmo desejo de resolver sozinho suas necessidades. Ali estávamos agora nós dois querendo atravessar aquela rua ponde onde só passava gente apressada.
Então no primeiro momento em que houve um espaço de tempo e distância de modo a garantir que aquele motorista teria todas as condições de nos ver, me lancei no meio da rua. Dei uma de herói? Nada. Queria fazer valer o direito do pedestre, pois estávamos querendo atravessar naquelas benditas faixas brancas.
Aquela senhora até se assustou com minha tamanha coragem. Mas ela só decidir atravessar na hora que aquele carro parou na minha frente. E eu chamando-a para enfim atravessar a rua com o carrinho de compras.
Que alívio! Conseguimos atravessar. Do rosto dela brotava sorrisos encantadores. Ela ria da nossa aventura urbana. Se na roça temos medo das cobras nas trilhas, na cidade temos mais medo ainda dessas "cobras" voadoras no asfalto.
Então comentei com ela: - Cada dia mais difícil para o pedestre nessas ruas!
Ela então me retribuiu com uma reflexão:
- Eu adoro meu país. É maravilhoso. Mas a cada dia nosso povo tá ficando mais mal educado e intolerante. Quando eu venho, continuou o papo, com minha bengala de metal eles param imediatamente. Acho que com medo de eu meter a bengala no lindo carrinho deles.
E deu uma bela gargalhada!
Resolvi adotar a mesma estratégia. Doravante andarei com um pedaço de vergalhão nas mãos. E terei tranquilidade para andar nas ruas. No mínimo irão me respeitar achando que é mais um doido que tá solto nas ruas.