đ” Iron Maiden
Acostumado a assistir a shows na pista, querendo economizar algumas notas, quase transformei meu derradeiro show de rock em estĂĄdio numa experiĂȘncia estranha. Para quem sĂł aceitava assistir a shows na pista, ficar plantado na arquibancada era algo comparĂĄvel a ver Charles Aznavour, Dione Warwick ou Manolo Otero no Palace, atrĂĄs de uma coluna. Felizmente o Iron Maiden cumpriu o combinado e entregou o prometido.
Os shows do Iron sĂŁo milimetricamente calculados e executados, portanto a emoção Ă© quase a mesma para quem vĂȘ na frente do palco ou nas cadeiras. Resumindo: Ă© perfeito como num videoclipe. O âsetlistâ (mĂșsicas tocadas) Ă© construĂdo para agradar a maioria dos fĂŁs.
Pois bem, a apresentação foi no antigo Parque AntĂĄrtica (EstĂĄdio do Palmeiras). AlĂ©m de eu ser corintiano e me sentir infiltrado no territĂłrio inimigo, havia algo estranho na movimentação tĂpica de um show de rock. Onde estavam os altamente embriagados, que deveriam ser facilmente encontrados caĂdos pelas calçadas? E as ambulĂąncias correndo para recolher algum roqueiro em coma alcoĂłlico ou vĂtima de overdose de entorpecentes? Nem sequer algum doido quebrando uma garrafa e se imolando! NĂŁo encontrei os âmetaleirosâ decapitando pombos com os dentes, pelo contrĂĄrio, o que vi foi uma turminha parecendo haver achado os ingressos no âMcLanche Felizâ. Realmente, as coisas haviam mudado muito.
O show do Iron Maiden ocorreu em 2008. Tudo era muito diferente dos apocalĂpticos anos 90. Nesta dĂ©cada, tentaram reeditar o lendĂĄrio festival de Woodstock. ConclusĂŁo: o que começou como farsa, terminou como tragĂ©dia. Em 1999 nĂŁo havia clima para o amor livre, o banho de lama e aquele showzinho âfolkâ com um passarinho pousado no braço do violĂŁo; na dĂ©cada da âroupa pretaâ, rolaram estupros; uma reprodução do histĂłrico banho de lama â sĂł que misturado com urina e fezes liquefeitas â e o passarinho seria devorado vivo. A âpaz e amorâ dos 60â nos anos 90 eram Ăłdio e destruição, como se estivĂ©ssemos na iminĂȘncia da destruição do planeta pelo propalado âBug do MilĂȘnioâ.
Em 2008, o comportamento do pĂșblico, comparado ao da dĂ©cada passada, era prĂłximo ao de uma plateia do coral de igreja. A minha surpresa foi, esperando alguma coisa pior que âa dĂ©cada malditaâ, que eu encontrasse um panorama quase âbaba-ovoâ de espetĂĄculos sertanejos. E parece que atualmente a tendĂȘncia Ă© pior: tipo, assistir aos shows com o celular erguido.
âO Lollapalooza Ă© uma micareta indieâ
(André Barcinski)