O Sistema Educacional Desejável pela Classe Média

Eu sou professor e cada vez mais fico assustado com as falsas informações que a classe média propaga sobre o sistema de ensino público no país. Uma das fake news vociferadas aos quatro ventos em redes sociais e compartilhadas acriticamente por cabeças afoitas é a seguinte: é positiva a reforma educacional em curso tendo em vista que os governos ditos de esquerda nada fizeram em prol do ensino. E como há uma constante entoação de um mantra público de que o futuro do país passa pelo investimento na educação, faço uma pequena descrição perante o precipício social que engole a todos.

O que temos atualmente na mesa do Poder Executivo para resolver a problemática? O que se observa é um discurso pífio de um Estado mínimo que visa congelar gastos públicos em áreas fundamentais para se combater a desigualdade social. Desde a posse ilegítima de Michel Temer, isso se expressa em cortes financeiros direcionados à programas sociais, tais como o Ciência Sem Fronteiras. Com isso vários alunos de graduação perderam bolsas e a oportunidade de ampliar o seu conhecimento no exterior.

Na área de pesquisa o abismo é ainda maior. Na contramão dos países desenvolvidos que investem em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, temos um presidente do medievo que parece odiar o progresso científico. Nos últimos anos foi feito um corte de 44% no orçamento destinado a ciência e tecnologia. Isso além de ser um retrocesso, estimula que nossos pesquisadores saiam do país e usem suas pesquisas em prol do desenvolvimento cientifico de outras nações. O Tio Sam foi mestre ao longo do século XX em captar mentes brilhantes de várias nacionalidades para o desenvolvimento de suas universidades.

A reforma da educação no ensino médio, até hoje não esclarecida quanto à forma que será operacionalizada, não é menos nefasta. Com a ideia de retirar várias disciplinas da grade curricular ao não torna-las mais obrigatórias, a consequência é que o aluno não será capaz de elaborar uma leitura das questões sociais ao seu redor. Será perdida a possibilidade de uma visão pluralista e integrada na qual o jovem tenha conhecimentos básicos nas várias áreas do saber para ser um cidadão atuante em sua sociedade e que saiba compreender problemas de diversas “naturezas”. Ele irá para o ensino superior com uma formação deficitária. Pois, se ele optar por estudar ciências humanas terá um grande desconhecimento das áreas de química e física, por exemplo. Optando pelas ciências exatas, não saberá fazer uma leitura de questões sociais em geral e como funciona as estruturas políticas.

E se esse aluno for para a universidade?! Porque o resultado da implantação dessa ideia é que muitos governos estaduais vão eliminar várias disciplinas de sua grade curricular (diante da não obrigatoriedade). O resultado de tudo isso? Com o mínimo de matérias estudadas, os educandos de escolas públicas vão ter uma péssima formação, o que vai os distanciar do ensino superior e impor aos mesmos a servil posição laboral de “oreias seca” - mão de obra barata para o mercado privado.

Enquanto do lado contrário o empresariado vai ter altos gozos financeiros ao investir em belas escolas privadas (com todas as disciplinas ofertadas) para os filhos da nossa querida e ilustrada classe média. Aí os cidadãos de bem vão pagar altas mensalidades ao recitarem outro famoso mantra coletivo: o imposto é roubo e ainda tenho que pagá-lo, sou “obrigado” a procurar instituições privadas de educação. Mas tudo bem, ele é patriota e na próxima oportunidade irá vestido de verde amarelo para uma manifestação em prol da educação.

Ano eleitoral e então os membros dessa caricata classe média darão seus pitacos partidários sobre o assunto. Para muitos a opção será um candidato tucano. Mas como confiar numa agremiação partidária que simplesmente incentivou o crescimento do ensino privado em detrimento do público? Como aceitar que membros do PSDB apoiem projetos de lei que pretendem privatizar cursos de universidades federais?

Outros gritarão que o presidenciável mais respeitável para essa hercúlea tarefa é um mito ultradireitista dos aborrecentes. Esse caricato candidato não tem nenhum projeto sobre o tema educação, sem contar a sua retorica de oposição as minorias. Ele é um parlamentar que compactuou com o atual descaso com o ensino ao votar no congelamento de investimentos públicos. De que forma ele vai abrir a boca para falar em criar escolas, se o próprio votou junto com o grupo de Temer para o fechamento delas? Soma-se a isso o fato de que o político em questão contratou um economista (para desenvolver sua plataforma de projetos) que vive falando de privatizações e cortes em áreas sociais.

O fato é que temos escolas compostas por uma frágil formação de docentes, elevada evasão e uma enorme discrepância na qualidade ofertada em serviços entre os diversos centros de ensino espalhados pelo território nacional. São diversos problemas que podem ser citados. É necessário fazer uma crítica para perceber que estamos bastante distantes de um projeto nacional que seja uma resposta significativa aos entraves para o funcionamento pleno desse serviço social.

Apesar de todo esse lastimável quadro social, a retórica que tem se tornado hegemônica no seio de classe média é a da privataria do ensino público. Manipulados por falsas informações do Mbl e pela cegueira ideológica do que imaginam ser políticas de esquerda, essas pessoas atropelam os valores constitucionais. Eles ignoram os objetivos de uma real democracia ao terem coragem de assumir a concepção de que tirar o ensino gratuito dos humildes (que já são penalizados com o atual sistema) é o melhor caminho para o país.

02.03.2018

Dennis de Oliveira Santos
Enviado por Dennis de Oliveira Santos em 05/06/2023
Código do texto: T7806535
Classificação de conteúdo: seguro