A ESCADINHA
Todo mundo tem uma e se não tiver, conhece bem aquela escadinha feita de metal ou de madeira, com formato de banco e que os dois degraus suplementares se recolhem entre as pernas.
É prática, cabe nos menores cantinhos e ainda serve de mesa auxiliar em momentos de necessidade.
Eu também tenho uma delas que me serve muito bem quando preciso de algo que esteja acima do alcance dos braços.
A casa em que moramos tem uma varanda larga, coberta com telhas de fibrocimento que na época de calor e sol intenso, virava um forno.
Virava (no pretérito imperfeito), porque mandamos colocar placas de isopor por sobre o lambri.
O isolamento ficou perfeito, mas que deixou um espaço de visual desagradável, se visto do portão de entrada.
Fazendo uso dos meus dotes “artísticos”, com a sobra das placas de isopor, tapei o buraco com um painel imitando muro patinado pelas intempéries e para ressaltar a ideia de “construção antiga ao relento” coloquei dessas ramagens artificiais que toda loja xingling tem para vender.
Acontece que as rajadas fortes dos ventos do outono derrubaram as ramagens e fizeram uma bagunça nas placas de isopor.
Montado na plataforma da escadinha, reorganizei o que chamo de painel e na hora de descer, sem os cuidados necessários que a idade exige, foi a minha vez de esborrachar-me por sobre as avencas e samambaias (essas verdadeira) do jardim vertical e do vaso de tinhorão (Caladium bicolor) ao pé da escada.
Nunca fui praticante de nenhuma das “artes marciais”, mas o hábito de observar comportamentos aprendido na Biologia me ensinou que a melhor forma de cair é deixar-se cair, sem contração muscular nem tentar se segurar em algo como fazem todos os animais e, principalmente, as criancinhas.
Afinal o chão estava bem perto e, com toda certeza, dele eu não passaria.
Rescaldo do “acidente”: vasos quebrados, terra derramada pelo chão que a esposa acabara de varrer, roupa suja na máquina de lavar e a constatação de que ainda não foi dessa vez que os meus velhos ossos se quebraram...