NOITE A NOITE DA MOLECADA NO DIA A DIA DA SAUDADE
A Lua subindo...
A garotada na algazarra:
“Esteca o gude”; “gool”; “quer brigar cospe aqui”; “sua mãe não é homem”; “vamos de amarelinha”.
“Conta até vinte: um dois três quatro... Não vale muito rápido”; “aquele que perder vira mulher do padre”.
Cada um no seu quadrado: Aqui o esconde mais esconde; ali a raia dos gudes; acolá amarelinhas; a batalha de piões naquele espaço; cabra-cega e queimada em algum lugar.
E, pulando corda; cantávamos uníssonos:
— “Pula, pula três vez, o último que errar tem mulher e filho, e não consegue sustentar”.
E a Lua subindo...
O tempo passando e, por todos, esquecido...
De algum portão uma mãe alerta: “Tá na hora de dormir”.
E a Lua subindo...
O tempo passando e, por todos, desprezado...
Outra mãe: “Hora de entrar”.
E a Lua subindo...
O tempo passando e, por todos, nem lembrado...
A brava das mães: “Se não entrar apanha”.
E a Lua subindo...
O tempo passando, e o perigo chegando...
De repente, de todos os portões O Jogral das Mães Impacientes
afinadas como Montserrat Caballé, dá o derradeiro aviso:
“Se não entrar o chinelo vai comer”.
E a rua ficou vazia...
O tempo foi lembrado...
E a Lua subindo, subindo, dormiu.