NOITE A NOITE DA MOLECADA NO DIA A DIA DA SAUDADE

A Lua subindo...

A garotada na algazarra:

“Esteca o gude”; “gool”; “quer brigar cospe aqui”; “sua mãe não é homem”; “vamos de amarelinha”.

“Conta até vinte: um dois três quatro... Não vale muito rápido”; “aquele que perder vira mulher do padre”.

Cada um no seu quadrado: Aqui o esconde mais esconde; ali a raia dos gudes; acolá amarelinhas; a batalha de piões naquele espaço; cabra-cega e queimada em algum lugar.

E, pulando corda; cantávamos uníssonos:

— “Pula, pula três vez, o último que errar tem mulher e filho, e não consegue sustentar”.

E a Lua subindo...

O tempo passando e, por todos, esquecido...

De algum portão uma mãe alerta: “Tá na hora de dormir”.

E a Lua subindo...

O tempo passando e, por todos, desprezado...

Outra mãe: “Hora de entrar”.

E a Lua subindo...

O tempo passando e, por todos, nem lembrado...

A brava das mães: “Se não entrar apanha”.

E a Lua subindo...

O tempo passando, e o perigo chegando...

De repente, de todos os portões O Jogral das Mães Impacientes

afinadas como Montserrat Caballé, dá o derradeiro aviso:

“Se não entrar o chinelo vai comer”.

E a rua ficou vazia...

O tempo foi lembrado...

E a Lua subindo, subindo, dormiu.

Arabutã Campos
Enviado por Arabutã Campos em 05/06/2023
Reeditado em 05/06/2023
Código do texto: T7805956
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