O Umbra!*

Fim de tarde de um domingo de outono. Experimento um vazio (o milionésimo em mais de quatro décadas...) – um vazio do tipo existencial ou algo afim. A sala de casa na penumbra – _O Umbra!_ – convida ao registro dessa crônica de dor existencial.

De repente, 30 – trinta anos após algum ano no Ginasial**. Trinta numa esquina do tempo, meu Chapa. Um terço de século, não? É. Um terço de século ou algo perto disso. (Esse olhar retroativo alimenta o vazio existencial; por favor, não leiam _A Náusea_, de Sartre. Além da cacofonia do título, o conteúdo nos faz descer algum barranco da alma e gera mais sofrimento. Fiz essa cagada em 2012, somada à leitura de _A Metamorfose_, de Kafka. E, para finalizar, de _Esperando Godot_. Olhe, Bicho, foi a Trilogia do Sofrimento. Beckett acaba com o conceito divino ali. Não faz como Nietzsche, que se vale do "louco" na praça pública, gritando para todos que "Deus está morto!". Mas aponta para _um_ Deus (cristão) que, sob uma figura humana, personificada, trata mas não aparece. Faz de Vladimir e de Estragon dois bobos. Essa humanidade sintetizada na figura de dois indivíduos do sexo masculino acaba por anunciar que a confiança num terceiro é um erro eterno.

O vazio, voltando ao nosso papinho anterior, é um sintoma da Existência Humana: os animais irracionais não podem sentir isso. Não têm tempo para isso. O vazio não é um espaço vago, não. É um sintoma que nos obriga a mudar de lugar. A correr, a mudar a direção de nossa busca. Ir atrás do Vento da Mudança [ _Wind of Change_ ]. Ou atrofiar em nossa condição estática de quem optou por não viver a Vida...

Notas

* Lat. para "Ó Sombra!"

** Hoje Ensino Fundamental II.

Autoria: W. V. Fochetto (2023)

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