A RAINHA DAS MOSCAS

Estava trabalhando de madrugada, hora bendita pra atiçar a inspiração e transformá-la num amontado de palavras e frases que teimam por dizer alguma coisa. De repente fui surpreendido por um inseto voando, de forma inquieta, perto do computador. Era uma mosca. Não uma mosca qualquer, daquelas que a gente esmaga com chinelo sem dó nem piedade. Imagine uma mosca bem mais gorda, com corpo azul. E que zunia sem parar. Diria até que era uma mosca bonita, vistosa. Abri a janela na tentativa que fosse voando embora e nada. Ela insistia em ficar rodeando a mim e ao meu computador. Foi então que dei conta de que não era mesmo uma mosca como as tantas que têm por aí. Tinha algo diferente no seu porte, no zumbido, no bater de asas. Era a rainha das moscas. Devia ter se perdido do seu séquito, ou algo por aí, indo parar justamente nos domínios desse pobre escriba. Percebi então que, sendo rainha, merecia toda corte, todo respeito. Estendi a minha mão pra que nela pousasse. E assim fez, quando tive a oportunidade de observar mais de perto. Era mesmo linda e tinha porte de rainha. Fiz então o que um súdito deveria fazer naquela hora: saudei-a com a cabeça, o que ela respondeu abanando efusivamente as suas asas. Calmamente conduzi a sua majestade até a janela, para que voasse de volta aos seus domínios. Quando fui retornar ao trabalho, tomei um susto. Sobre a parte superior do teclado, havia um presente especial de sua alteza. Uma imensa asa repousava solenemente ali. Em se tratando de uma rainha, não poderia ter deixado uma lembrança qualquer. Vá em paz, alteza. Sempre que quiser voltar, a minha reverência estará à sua espera.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 04/06/2023
Reeditado em 04/06/2023
Código do texto: T7804913
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