Papai Noel, dê-me...

Teria tantas coisas a pedir a Papai Noel que não saberia sequer por onde começar minha lista de pedidos. Se eu pudesse e ele me ouvisse, juro que iniciaria pedindo-lhe substrato para que eu pudesse recriar a alma humana e despi-la de preconceitos e incompreensões. Recolorir o planeta com mais verdes e lilases seria tão bom! A violência, esse maldito hóspede dos dias modernos, pediria que a levasse embora para hibernar eternamente nos infernos congelados dos trópicos do inacessível aos olhos humanos.

E se o Natal de 2008 nos chegasse ao som do Bolero de Ravel e com uma linda lua cheia, a festa estaria completa... mas até o sonho natalino possui limites impostos pelo cotidiano racional dos pecadores irmãos nossos, embora poetar seja preciso. O trenó de Papai Noel se chegasse usando álcool combustível seria melhor. Mas cuidado, Papai Noel, quando, deixando a Lapônia, o senhor cruzar o espaço aéreo do Brasil: olhe logo se seu transponde está funcionando. Jamais responda aos acenos de chamamento quando cruzar os céus venezuelanos. Poderá ser tramóia do Hugo Chávez querendo conspirar contra os céus, a mando de Fidel Castro!.

O seu olhar deverá mesmo enquadrar nele a miséria de nossas favelas e o sangue violento da insegurança social. Haverá mais consertos por entre nós mortais do que mesmo outras coisas. É tempo de refazer-se entre nós tanta ingratidão, egoísmo e faltas outras.

Espero que o bom velhinho não se suje ao entrar nas chaminés de hoje. Antigamente isso não era levado em conta. Hoje, talvez ele nos chegue já amarrado ao protocolo de Kioto, e deva vir trazendo no sacolão seus créditos de carbono registrados.

Pousar é melhor se no cerne de alguma multidão e em local bem iluminado. Difícil mesmo é não ser roubado. O país está diferente de ontem. Nele encontrará as crianças a usarem brinquedos diferentes. Elas preferem as armas aos joguinhos divertidos.

Então Papai Noel, o jeito é o senhor pousar entre nós trazendo, no seu sacolão, caixas de esperanças em dias melhores. Nossas crianças talvez nem mais o conheçam e isso não seria difícil constatar-se, o que é uma pena! Cá entre nós, a vida mudou e para pior!

Desejo fazer-lhe um especial pedido. Sei que será um pedido diferente, mas servidor, resolvedor. Traga-nos vontade lícita para que possamos construir um mundo novo, diferente, menos irreal que o de hoje. Um mundo onde não caiba a miséria nem o desamor e onde as crianças estejam todas incluídas socialmente e com fé no futuro dos Natais que nos chegarão à frente. Se isso nos for dado, o resto ser-nos-á menos difícil e bem mais atraente fazer.

Vou esperá-lo, Papai Noel, de olhos fechados para sonhar mais profundamente e encontrar o passado santo e cheio de esperança que as crianças de ontem, como eu, puderam vivenciar tão santamente, ao contrário das de hoje. Quando eu acordar, desejarei sentir o perfume de sua paz e o fôlego de uma esperança renascida com o clima da fé e do amor. Não se esqueça de voltar, Papai Noel, mesmo que não possa mais trazer o conserto deste mundo em que vivemos. Afinal, tê-lo entre nós, mesmo que em sonhos, é sinal de que ainda não perdemos tudo de bom que as nossas almas admiraram um dia, vindo do céu dos sonhos e da alegria de nossas esperanças enquanto crianças.