Tranferir o Natal

Neste ano e nos vindouros, o Natal deveria ser mais presencial campino. Transferir os festejos natalinos para o Brasil interiorano e produtor da proteína que se consome nas metrópoles enturradas de gente e cheias de crime e de desamor bem que seria mais humano.

Divisamos uma coisa e fazemos uma outra completamente diferente. A bandidagem já saliva desejosa de roubar a fartura das compras feitas por nossos trabalhadores, costumeiramente, nos finais de ano. O Natal erupcionou o outro lado desestruturado do sem entendimento, quando o comércio é mais radiânico do que as próprias luzes do Natal festivo, referencial cristão de esperança e vida.

É expectável que o comércio aumente seus lucros e que o trânsito de homens nas ruas e nas estradas do país entre em alvoroço. A real confraternização entre eles deixa a desejar. Se subtrairmos a bebericação e a animosidade advinda com esta, pouco sobrará de bom e representativo.

Está aí o campo convulso com a ambiciosa pretensão de tudo ter do governo e pouco devolver à sociedade. Lutas de classe e representatividades pífias. O jogo político é bem maior do que o olhar social responsável desses mesmos grupos de trabalhadores. E enquanto isso a classe média é avultada em seus direitos enquanto cidadã, tendo que pagar de impostos o que, além de injusto, é superior às suas condições financeiras.

O mal é radiciforme e todos o conhecem e chama-se despreparo desses seres que, sem raízes culturais e educacionais, não agüentam qualquer tempestade. Culpa do Estado que não trabalhou com ações firmemente pospositivas visando a um futuro mais digno para esta nação. Descobrir uma grande reserva petrolífera por si só não diz muito. O cidadão brasileiro necessita investir em sua própria alma para conduzir melhor suas mãos e poder ver com o coração o que seus olhos, hoje ínvios, têm- se negado a fazê-lo.

Amar e amar é tudo! Quem ama constrói e sobrevive vitorioso a essas mazelas sociais que relutam criar grandes raízes indesejadas entre nós!

O governo pôs um santarrão numa pequena peanha; a sorte é que o santo, apesar de grande, não pesa tanto. Há de esperar-se que esse mesmo governo use o Estado não apenas como no Natal comercial de todos os anos, mas resolva de uma vez por todas atacar tête-à-tête os problemas brasileiros radiculares. Não se pode sujar a água em baixo da jarra para beber a de cima. O tino político é esperado pela sociedade. Mentir, repito, deve ser punido como crime inafiançável. A sociedade não pode mais entender que Natal é sinônimo de compras fartas e que o governo pode sair por aí enganando a sociedade, sem ser punido!

Vamos levar o Natal para o campo, incentivando a permanência de trabalhadores campesinos. O êxodo rural é um mal alastrado que precisa de remédio forte e com rápida ação. O clima social é nele fumígeno; não podemos esperar que suas cinzas sejam mostradas. O monsenhorado, sombra dos antigos coronéis, deve entender que a terra deve ser para quem nela trabalha. A fama e o diagonal branco passaram! As atitudes atuais devem ser mudancistas no sentido de trabalharmos novas leiras e colhermos frutos mais justos e mais bem divididos, do ponto de vista social. Socializar o trabalho e a safra é a saída mais honrosa para um povo que enxerga no Natal, como um todo, a seiva da esperança e o broto vingado da renovação da vida.

E se o entendimento dessas palavras usadas por nós neste texto for recebido densamente por todos, poderemos construir, na representatividade deste Natal arcaico, um novo Natal cheio de radilância, fé e vida fértil... lutas de almas não nos servem. O campo tem de ser o perfume da cidade, representado nos frutos de suas safras dignas. É safrosa também a vontade deste articulista em ver tudo isso entendido e posto em prática. Nosso Natal tem que se iniciar em janeiro com muito trabalho e findar-se em dezembro com mesa farta e estradas e ruas limpas de tudo.