Quando o delicado fere
Descobriu uma novidade: uma pétala de flor corta como a lâmina de uma navalha,
a carne enfraquecida pela saudade, por um remorso, uma total falta de querer viver.
Era assim que se sentia de vez em quando; solto no ar, a vida sem razão de ser.
E vinha sem motivo ou com motivo, tanto faz, porque o que vale mesmo é o mundo
interior. Quando não se tem paz na alma qualquer brisa corta a pele, fura os nervos e
dissolve os ossos.
Mas o limite da alma não é o mesmo do corpo. e a confusão mental pode vir de um
sentimento qualquer; é aquele momento em que todas as portas e janelas do ser estão
abertas para a vida, parece assim como uma máquina fotográfica captando um momento,
e registrando na fotografia. A mente da gente parece isso. E não controlamos as portas e
as janelas que se abrem e fecham aparentemente sem um motivo, mas motivo há, só não
é percebido pelo corpo. Se o corpo registra tudo que se passa com ele é porque a alma
recolhe qualquer emoção. Pode ser dor física, dor moral, um corte real ou imaginário.
O Sangue da alma há de ser mais sutil e escapa mais rápido da ferida que não se vê,
nunca se fecha ou talvez se feche, sem agente perceber; por isso que uma música pode
nos machucar como outra lâmina de outra navalha.
Quando as coisas delicadas estão nos machucando , melhor parar de viver, sentar
numa pedra , na beira do caminho e chorar até tudo parar. Lavar a alma e prosseguir tentando
ser melhor , nem que seja muito pouco, que o momento anterior.
A vida só tem começo, não tem fim.