Um momento de rédia solta
Acordo sinto um daqueles momentos nostálgico, que faz sentir frio na alma mesmo a temperatura não esteja tão fria assim, então eu sinto uma saudade muito grande, uma saudade de quando te conheci, e recordo devagar, bem devagar, com um bem-querer tão certo e limpo, tão profundo estava sendo muito bom que parecia que estava vivendo tudo novamente.
Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de um homem em crise; e, entretanto, eu hoje não sinto um senhor, apenas um rapazote, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico. Olho-me no espelho e percebo que estou envelhecendo rápido e definitivamente; com esses cabelos brancos parece que não vou morrer, apenas minha imagem vai-se apagando, vou ficando menos nítido, estou parecendo um desses clichês sempre feitos com fotografias antigas que os jornais publicam de um desaparecido que a família procura em vão.
Sim, eu sou um desaparecido cuja esmaecida, inútil foto se publica num canto de uma página interior de jornal, eu sou o irreconhecível, irrecuperável desaparecido que não aparecerá mais nunca, mas só você sabes que em alguma distante esquina de uma não lembrada cidade estará de pé uma moça perplexa, pensando, pensando teimosamente, docemente em mim, meu amor.
Ai acordo de verdade.... faz um ano que namoramos toda noite eu na varanda de casa, ela no céu a estrela mais brilhante do cruzeiro do sul.