POETA NESTOR TANGERINI
COMO A MORAL REQUER
Nelson Marzullo Tangerini
Na década de 1930, o poeta Nestor Tangerini, depois de uma larga produção nos moldes parnasianos, tempos de trovas e sonetos satíricos e líricos decassílabos, rigorosamente no metro, resolve, meio sem jeito, fazer versos brancos, a moda dos modernistas de 1922, versos estes que farão parte, no futuro, de mais uma publicação do autor.
Da lavra modernista do autor, trazemos este poema, “Como a moral requer”, publicado no jornal Gazeta do Brasil, em 1935:
“Moralidade.
Todo homem casado,
vacinado,
que, ao sair do emprego,
aviste uma deidade,
que inspire chamego,
não lhe deve dar asa:
deve refletir
e seguir,
direitinho,
o caminho
de casa,
como a sã moral requer
rigorosamente
- Sempre que esta mulher
for a sogra da gente”.
Seu forte mesmo eram os sonetos, que desenvolveu desde sua entrada para o Café Paris, de Niterói, ex-capital fluminense, nos anos 1920.
Leitão e Tangerini moravam em Riodades, no final da Alameda São Boaventura. Imagino que tenham se conhecido n´alguma banca de jornal, nascendo, dali para adiante, a grande amizade que ficou registrada em livros sobre os “Parisienses” e a Roda Literária do Café Paris. Iam juntos para esbórnia, no referido Café, e voltavam juntos, no mesmo bonde.
Cinco anos mais novo que Leitão, Tangerini talvez tenha sido influenciado pelo sempre espirituoso poeta niteroiense. Eram tão parecidos, na produção literária e no comportamento satírico, que acabaram liderando a Roda, que era composta por outros grandes poetas, também, como Renê Descartes de Medeiros, Apollo Martins, Olavo Bastos, Brasil dos Reis (o Brasil das Rainhas), Mazzini Rubano, Mayrink, Gomes Filho, entre outros. Estes, porém, traziam, em suas poesias, as influências simbolistas de Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens - ou até mesmo românticas.
O Acadêmico e escritor gaúcho Paulo Monteiro, classificou-os, com razão, como “Neoparnasianos”, enquanto o autor que escreve esta crônica os chama de Segunda Geração Parnasiana, geração esta que tem sido desprezada por críticos literários e professores de literatura de universidades.
Em manuscritos de Nestor Tangerini, encontramos referências ao poeta e farmacêutico Alberto de Oliveira, que, vez ou outra, embarrava com os “parisienses” nas ruas.
Enquanto Alberto era escrachado pelos modernistas de 1922, o augusto poeta fluminense era admirado e respeitado pelos “poetas do Paris”, fato que já foi registrado no soneto “Paralelepípedo”, publicado no livro “Humoradas...”, Editora Autografia, Rio de Janeiro, RJ, 2016, e em alguma crônica anterior a esta, também publicada no livro “Nestor Tangerini e o Café Paris”, Editora Nitpress, Niterói, RJ, 2010.
Outros livros de Nestor Tangerini estão sendo digitalizados, e, certamente, virão à luz, como sua produção moderna, suas “Caricaturas Cubistas” e suas peças teatrais: “Panos & cortinas”.