A fantasia nas redes sociais

Tenho refletido sobre a felicidade nas redes sociais e o oposto dela, a autocomiseração pública. Não creio que seja somente dar publicidade às suas vidas, penso que elas querem convencer a si mesmas que sua rotina é um parque de diversões ou um circo de horrores permanente. Há, obviamente, um ou outro que avisa que a realidade mostrada não corresponde à sua vida pessoal para que alguém não leve um baita susto se reconhecê-los no mundo real.

Considero essas atitudes como andar de metrô. Cada qual tem seu jeito, uns olham seu celular o trajeto inteiro ensimesmados, outros encaram impolidamente quem os rodeiam, tem gente que puxa assunto e tem também o cara com aparência de poucos amigos. Mas não acho nenhuma atitude dessas falsa porque não existe um computador no meio para servir como escudo, esconderijo. Como, por exemplo, poderíamos bloquear um indivíduo que não se comporta em público? Chamando a segurança? Na internet basta acionar um dispositivo para livrar-se da “persona non grata”. Não dá trabalho e não frustra.

A mentira nasceu desde que o mundo é mundo assim como a fofoca. Onde tem gente reunida seja no real ou no virtual haverá dissimulação e versões variadas sobre o mesmo fato. Seres humanos agregados nunca souberam comportar-se como deveriam o tempo todo, ou pelo menos uma fração deles. Demonstrar alegria excessiva e prosperidade pode ser um tipo de afronta assim como consolar quem está em crise com frases feitas e clichês é abominável, mas não são seguidas normas de conduta em lugar nenhum na era em que vivemos.

Daí, só podemos mostrar o verdadeiro eu para os poucos gatos pingados que nos aceitam como somos (com as fragilidades próprias do ser humano) dentro e fora da internet e essa não é uma constatação pessimista. O bonito é ser saudável, talentoso, independente e próspero, é o que dá visualizações e curtidas. Se possível, sorrindo o tempo todo como se fosse a primeira dama de um país membro do G7, aí pode até viralizar.

Ouso afirmar que minha vida é verdadeira, palpável, sujeita a instabilidades, mas tenho certeza que eu sou eu e não tenho atração por positividade tóxica nem preconceitos. Tenho pena de quem vive um personagem que não revela nem a si mesmo, deve ser fonte de muito dissabor, mas nem tudo está perdido, os profissionais da área psicológica podem aclarar muitos pontos, basta acioná-los. Pena tanta gente não aderir e cometer os mesmos erros eternamente.