MISTERIOSOS CHÃOS

A minha alma tem chãos que desconheço.

Já tentei decifrá-los, desnudá-los, desarmá-los,

flagrá-los, desmascará-los,

tudo em vão.

Estão envoltos numa couraça indevassável,

trancados a setenta chaves,

atracados num emaranhado maluco,

absolutamente protegidos por sei-lá-o-que.

Estes chãos existem antes de eu existir,

são o útero do útero que gerou,

são o gozo antes do gozo que me fez.

Um dia, quem sabe, possa desmembrá-los,

dissecar suas juntas, vasculhar seus porões,

revirar do avesso cada víscera.

Daí, quem sabe,

venha a entender a minha real partitura,

o meu mais nítido tempero,

a minha mais ecoada razão,

o meu mais alforriado voar.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 31/05/2023
Código do texto: T7801698
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