Mono Futebol Clube

No gol: Aranha, do Santos.

Chamado de macaco aos berros, com toda a força do ódio dos torcedores do Grêmio, flagrados pelos cinegrafistas, em Porto Alegre, em 2014. O clube gaúcho foi excluído da Copa do Brasil.

Na lateral direita, Daniel Alves.

Também em 2014, jogando pelo Barcelona, comeu uma banana, lançada em sua direção por torcedores do Villarreal. O clube foi multado em 12.000 euros e o setor da arquibancada foi fechado por uma partida.

Na lateral esquerda, Roberto Carlos.

Reagiu de forma diferente. Quando defendia o Anzhi, da Turquia, abandonou o jogo quando uma banana foi arremessada ao campo pela torcida adversária.

No meio-campo, Amaral.

Foi vítima de racismo em todos os países em que jogou. Encarava os insultos com bom-humor. Na África do Sul, antes de um amistoso da seleção brasileira, questionado a respeito do Apartheid, respondeu que não deixaria o adversário tocar na bola...

Na ponta de lança, Rivaldo.

Confirmou ter sofrido ofensas racistas quando jogava pelo Barcelona, em diversas oportunidades, principalmente quando se aproximava da torcida, nas cobranças de escanteio.

Low profile, fingia que não ouvia, mas arrebentava com o jogo pra revidar os xingamentos.

Mas o que mais tem no time é atacante mesmo!

Ronaldo Fenômeno, em 2005.

Jogou uma garrafa d'água contra torcedores do Málaga, que hostilizaram sua mãe.

Hulk.

Chamado de macaco em três jogos seguidos no campeonato russo, mandou beijos aos torcedores que o xingaram. Seu time saiu vitorioso nas três ocasiões.

Taison.

Jogando pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, foi expulso por ter reagido a insultos racistas da torcida do Dínamo Kiev. Não houve punição ao clube nem aos agressores.

Neymar, em 2020.

O atacante do Paris Saint-Germain foi chamado de macaco pelo uruguaio Álvaro González, do Olimpique de Marselha, em partida válida pelo campeonato francês.

E agora, Vinícius Júnior. Agora, não!

No ano passado, foi repreendido por um renomado comentarista espanhol por fazer "macaquices" ao comemorar seus gols.

A reação foi imediata: todo mundo engajado na campanha "Baila, Vini Jr.!"

No início desse ano, um boneco com a camisa 20, do clube que defende, foi pendurado pelo pescoço em uma ponte da cidade, em alusão aos enforcamentos de negros pela Ku-Klux-Kan. Acima, a frase: "Madri odia al Real."

Repúdio geral!

Não foi o bastante!

Domingo passado, o craque do Real Madri foi chamado de macaco pela torcida do Valencia. Apontou pro juiz os torcedores que o insultaram. Discutiu com os racistas. Pistola, acabou expulso do jogo por ter agredido um jogador adversário.

Benvindo ao time, Vini!

Fogo no parquinho logo em seguida: Javier Tebas, o presidente da poderosa "La Liga", que gere o campeonato espanhol, criticou o brasileiro por ter reclamado da (falta) de postura da entidade diante dos seguidos casos de racismo.

Aqui no Brasil, o Senador Magno Malta repercutiu:

"Cadê os defensores da causa animal que não defendem o macaco? O macaco está exposto, veja quanta hipocrisia! E o macaco é inteligente, é bem pertinho do homem, a única diferença é o rabo. Tudo o que você pode imaginar ele tem. É ágil, valente, alegre! Eu, se fosse jogador negro, entrava em campo com uma leitoinha branca nos braços. Dava um beijo nela e falava: Olha como não tenho nada contra branco. E ainda como!"

Fazer o quê?

Não, a pergunta é: o que fazer?

Antes de tudo, não escorregar na casca da banana que eles atiram contra jogador preto.

Não cair na provocação. Não reagir pra não ser expulso, pra não perder a razão, pra não virar o animal irracional que age movido pelo instinto.

Porque é essa a invertida que eles querem!

Paciência, inteligência, resistência pacífica!

Já foi feito, já deu certo!

Montgomery, Alabama, 1º de dezembro de 1955.

Dona Rosa entrou no ônibus ao entardecer. Finalmente voltando pra casa depois de vencer mais um dia de serviço. Dona Rosa era costureira.

Deu sorte. Tinha lugar pra sentar. Dentre os disponíveis pra negros. Mas à medida que as paradas se sucediam, mais cheio o carro ia ficando. E não demorou pros assentos ficarem todos ocupados.

Deu azar. Entrou uma galera branca no busão. O motorista fez sinal pra Dona Rosa se levantar, ceder o lugar pra um deles se sentar. Mas ela se recusou. Corajosa, disse não, na lata!

O motorista chamou a polícia. A Dona Rosa foi conduzida à delegacia. Presa por infração à lei estadual que obrigava os negros a cederem lugar aos brancos no transporte público, quando atingida a lotação máxima do veículo.

O caso chamou a atenção do Pastor da Igreja Batista da Avenida Dexter. No culto do domingo ele propôs aos fiéis uma ação pra tentar acabar com a discriminação dos negros no transporte coletivo.

Seria um desafio. Pior: um enorme sacrifício, que exigiria força, coragem, determinação, disciplina, resiliência e fé.

Um boicote: dali em diante, nenhum negro de Montgomery se utilizaria de ônibus pra se deslocar dentro da cidade. Todo mundo a pé pra escola, pro trabalho, pra igreja, pra lanchonete, pra qualquer lugar.

E todo mundo topou. Todos os negros da cidade deixaram de subir nos ônibus no dia seguinte. E no próximo. E foi assim por um mês. E mais um. E outro!

O Pastor começou a ser alvo de retaliações e perseguições. Tinha iniciado um movimento pra tentar convencer a Suprema Corte a decretar a igualdade de direitos entre brancos e negros no transporte público em todo o país.

Foi preso mais de trinta vezes. Quase todas aos domingos, na rodovia, quando tava indo pra igreja, celebrar o culto e fazer aquela pregação, que trazia alento e ânimo pra todos continuarem firmes no propósito.

Pra impedir que ele chegasse, os policiais simplesmente o prendiam, ora por excesso de velocidade, ora por transitar abaixo do limite mínimo exigido, ora por falta de equipamento de segurança obrigatório (que os próprios oficiais retiravam do carro), ora por uma simples lanterna apagada (que eles mesmos quebravam no cassetete).

E teve coisa muito mais grave: ameaças diárias, intimidações por autoridades, de todos os níveis, agressões à esposa e filhos, tiros disparados contra sua casa.

Mas o cara era obstinado! Àquela altura, a coisa já tinha virado questão de honra. E, apesar de todas as provocações, nunca perdeu a linha. Pregava a desobediência civil, mas em nenhuma hipótese admitia uso de violência. Acabou que comprou treta até com os Panteras Negras...

Inflamados, só os discursos mesmo!

E a ação só que ganhava mais apoiadores, em progressão geométrica, dia após dia. E foram 381, de greve aos ônibus. Até que a empresa abriu o bico. Entrou no vermelho. Tava a caminho da falência. O dinheiro dos negros tava fazendo falta.

E veio enfim o julgamento: a Suprema Corte dos Estados Unidos da América determinou o fim da obrigatoriedade da separação de brancos e negros nos transportes coletivos em todo país!

A costureira era Rosa Parks: mulher, negra, pobre. Virou símbolo de resistência pro mundo todo. O Pastor era Martin Luther King Júnior.

Ele mesmo!

Que idealizou e fez acontecer a Marcha sobre Washington, em 1963, reunindo mais de meio milhão de pessoas na capital americana, que ouviram sua mais famosa pregação:

"Eu tenho um sonho! De que chegará o dia em que cada um de meus quatro filhos não será julgado pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu caráter."

Ele mesmo!

Que no ano seguinte recebeu o Prêmio Nobel da Paz!

Ele mesmo!

Que no ano seguinte viu aprovada a Lei dos Direitos Civis, que estabeleceu a igualdade entre brancos e negros. Ao menos no papel, né?

Ele mesmo!

Que três anos depois levou um tiro, quando saiu na sacada do quarto do hotel, em que estava hospedado, em Memphis, no Tenessee!

Ele mesmo!

Que foi assassinado aos 39!

Porque foi o único jeito que encontraram de calá-lo!

Ele mesmo! Que virou feriado nacional! Toda terceira segunda-feira de janeiro é Dia de Martin Luther King (porque o aniversário dele é dia 15).

E até racista tem que respeitar...

Bono Vox escreveu Pride pra ele: "In the name of love!"

Bora lá desenrolar essa greve, Vini Jr.?

Certeza que vai dar bom!

Foi só cogitar que tava pensando em dar linha, que o presidente da La Liga mudou o discurso.

"Você é o principal jogador do nosso campeonato, vamos estabelecer punições severas pra atitudes racistas, em seis meses vamos acabar com isso tudo e tals..."

O cartão vermelho foi cancelado. O jogo do Real, na quarta, foi paralisado aos 20 minutos, pra todo mundo demonstrar que "Tâmo junto!".

Ainda tá meio que, na dúvida?

Então puxa Mandela, que esperou 27 anos, preso, pra acabar com o segregacionismo no país mais racista do mundo...

Puxa Carl Brashear, primeiro Mergulhador-Mestre negro da Marinha dos Estados Unidos. O filme é muito bom: Homens de Honra, com Cuba Gooding Jr. e Robert de Niro (que desperta na gente os piores instintos, o filho da mãe!).

Falando em Cuba Gooding Jr., puxa Meu nome é Rádio: negro, pobre e deficiente...

Falando em filme de preto, puxa Duelo de Titãs: uma diretoria de ensino da Virgínia, pra concretizar a integração de alunos negros a uma escola de ensino médio até então exclusiva para brancos, contrata um técnico negro pra comandar o time de futebol do colégio. Denzel Washington arrebenta!

Tudo fita real! Com o verniz de Hollywood, claro...

Puxa B.B. King, dedilhando a Lucille...

Tá tudo muito gringa?

Bora tropicalizar, então?

Puxa Machado de Assis: considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos! Fundador da Academia Brasileira de Letras! Século XIX! Fala sério, o cara rompeu tudo o que é barreira...

Puxa Zumbi dos Palmares, Xica da Silva, Pixinguinha, Cartola, Pelé...

Todos eles foram chamados de macaco pelo menos uma centena de vezes na vida. E de coisa muito pior! Mas era comum e nem tinha como registrar...

Will Smith sacou...

Sinal que tâmo em evolução!

Mas ainda tá longe do ideal, né?

Opa, pera lá! Mas quem tá pagando de dono da verdade absoluta pra querer mandar letra de questão racial?

Um branquelo? Com que legitimidade, meu chapa?

Legitimidade zero!

Mistura de tudo com todo mundo: DNA combinado de alemão nazista com árabe desconhecido, temperado com espanhol mediterrâneo e refinado com a nobreza do norte da Itália, divisa com a Áustria. Nascido no Brasil!

No popular: meu bisavô nazista mandou a parteira matar minha mãe porque minha avó engravidou de um árabe (mas a parteira... quem ficou curioso, só ler a "História da minha mãe e da mãe dela", tá aqui no site, vou repetir sempre que achar necessário!); meu pai, filho de espanhol, casou com a minha mãe, filha de alemão e árabe, adotada por italianos; deu no que deu: sou brasileiro...

Como é que acaba com o racismo? Misturando, ué!

E vendo Deus em todo mundo!

Como não ver Deus na firmeza de Rosa Parks? Como não ver Deus na entrega de Martin Luther King? Na resiliência de Nelson Mandela? Na persistência de Carl Brashear? Na pureza do Rádio? No pioneirismo de Machado de Assis? Na valentia de Zumbi? No talento de B.B. King, Pixinguinha, Cartola, Pelé?

E vendo Deus no espelho!

Pra ter certeza que todo mundo é igual, porque todo mundo é imagem e semelhança Dele...