DO MAL SEM TRÉGUA
O poder sacode guizos jogados de lado,
arranca das sombras suas garras famintas,
revira a alma do avesso sem dó.
É víbora peçonhenta e cruel,
rolo compressor que não respeita chãos,
faca afiada sedenta por carne nova.
De fora parece manso e rouco,
dá até pra afagar sem medo,
dá até pra achar que faz bem.
De dentro é engrenagem aflita,
turbina multifacetada de horror,
deixa Deus de cabelos em pé.
O poder esgarça a fé, destitui a razão,
deixa as vísceras da vida em pandarecos.
Desse mal nunca nos livraremos,
vamos nos curvar à sua sombra eternamente,
vamos padecer no seu colo sem trégua,
sem consolo, sem perdão.