NINGUÉM FOI FILHO DE ALGUÉM

Nunca entendi e nem concordei com frases do tipo: "Fulano foi filho de Beltrano" ou "Fulana foi mãe de Beltrana", quando se referem ao vínculo com alguém que morreu. Os elos que unem as pessoas não são vulneráveis à fragilidade e finitude da vida. Eles se perpetuam enquanto perdurarem as lembranças e a saudade. Eles se manterão vivos enquanto se mantiverem aquecidas as referências, os legados emocionais e as histórias compartilhadas. Quando tudo isso acabar, pela crueldade do tempo, talvez assim possa colocar o verbo no passado. Ou talvez nem assim mesmo. Mas enquanto os laços estiverem mais fortes do que nunca, colocar o verbo no tempo presente é o mínimo que se pode fazer em respeito à memória do querido ou da querida que se foi antes da gente, antes da hora combinada.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 27/05/2023
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