🔵 Era uma vez na Vila Galvão
Fazia algum tempo. Já nos primeiros dias, eu não via motivo para estudar aquele monte de matérias que, eu tinha certeza, não me serviriam. Educação Física era a única disciplina que me entusiasmava, desde que a “aula” fosse de futebol.
Mas aquele dia apresentaria o motivo para eu nunca mais “cabular” aula. Mais que isso, sentar na frente, perto da professora, era uma possibilidade. Mais ainda, com apenas 11 anos de idade, eu realmente pensei em completar o ginasial.
Ela entrou na sala como quem levitava. Não precisei largar livro, caderno, lápis e borracha porque eu não os utilizava. A partir daí, iniciou-se uma nova gincana: a corrida para conhecer aquela menina e conquistar algo como o telefone ou o endereço dela.
No sábado cedo, fui ao endereço guardado como um troféu. Entretanto, quando virei a esquina, tive uma visão que revelava que meus adversários se acumulavam além das partidas de futebol. Não sabia por que meus amigos, no máximo adversários dentro da quadra esportiva, despertavam o que havia de pior em mim.
Chegando no portão da casa da garota da mesa da frente, cumprimentei e troquei algumas informações com meus “ex-amigos”. Fingi que ía estudar com a garota. Todos fizeram o mesmo. A garota, revelando maturidade, parecia compreender o transtorno que havia instalado naquele grupo de amigos. Ninguém quis ser o primeiro a abandonar o território, sob pena de virar o assunto ou, pior, ficar para trás.
Entrega de flores, oferendas, cartinhas, bilhetinhos, finais de semana com bate-papo no portão, fim de correria no pátio etc, aquela conduta adulta surgiu, não coincidentemente, com uma novidade: a garota da mesa da frente. O comportamento daqueles alunos estava alterado... para sempre. As antigas colegas de escola pareciam aguardar aquele despertar com impaciência. A presença delas na arquibancada escancarava a confluência de interesses.
Como todos aqueles garotos, com pouca idade, não tiveram sucesso ao se aventurar no amor, continuaram disputando a sorte no jogo. Porém, o recreio, que a partir daí era chamado de intervalo, teria outro sentido: a correria foi substituída por conversas. Mal desconfiávamos, aquele comportamento esquisito nunca mais iria acabar...