Dias de lucidez.

Dias de lucidez.

 

A pobre alma humana vacila e oscila entre a ilusão de poder ilimitado e o sentimento de profunda impotência. Vangloriamo-nos por civilizar continentes inteiros e por desbravar mares a dentro, perfurar montanhas e ainda por sobrevoar as nuvens.

E, somos a um só empo impotentes e escravos. Enfim, nunca subimos tão alo e nunca alto e descemos tão fundo. A era das massas persiste em uniformizar, homogeneizar e, assim, o homem se transforma apenas em números que regem tudo, possuímos recorde de mortalidade. Mas, a massa quer comida, abrigo, roupa, emprego e diversão.

Não bastam as forças da natureza. É preciso organizar, racionalizar e principalmente invisibilizar a miséria q ‘tanto nos envergonha. Enfim, somos todos senão meras engrenagens de uma máquina gigantesca e nesse potente rolo compressor, vivemos sem compaixão que nos pisoteia para fora e nos deixa como inválido à beira da estrada da vida.

Em Gênesis, percebemos que o trabalho como maldição de Deus. Somos homens normalizados em serie. E, vagamos do berço ao sepulcro de forma organizada e burocrática. Os homens de todos os povos e regiões vão ficando cada vez mais semelhantes uns aos ouros. E, as mulheres vestem o uniforme da última moda e os homens o traje ditado pelo último consenso.

Pais e filhos enfrentam-se na guerra das gerações, os filhos não hesitando em lhes quebrar o crânio aos pais. Velhice não é honra; desempregados de quarenta anos veem-se obrigados a usar tintura e maquilagem busca de uma colocação. Juventude não é alegria, mas um trunfo que prevalece a tudo.

Se a juventude é em si mesma um valor, então para que é ainda necessária educação? A educação tornou-se um problema a ocupar congressos quando já não s educava a ninguém.

O diabo, que segundo Shakespeare sabe citar em benefício próprias Sagradas Escrituras, torceu a fórmula evangélica “Se não vos tornardes com criancinhas” no satânico “Tornai-vos pueris!”. A vida inteira tornou-se primitiva. ditadura da juventude forma tudo à sua imagem e semelhança.

A ciência, virando especialização de estreita vis atividade maquinal de batalhões de professores universitários, terminou em fórmula universais inanes, que nada dizem, que ninguém entende.

Supersticiosamente, acreditou se capaz de milagres a ciência, incredulamente desconfiou-se dela em tudo, porém a um só desses casos a experiência deu razão.

O porta-voz dessa cultura foi o jornalismo. A vida que ele espelhava era verdadeiramente uma comédia para quem pensava e uma tragédia para quem sentia.

Informava, com minúcia, sobre os andamentos no ministério do imperador do Japão e mercado de bovinos, sobre as segundas núpcias da diva do cinema e sobre o décimo oitavo amorio do homicida sequencial de mulheres. À verdadeira vida, contudo, era cego

e surdo. Dependente da voraz curiosidade da massa e dos vorazes desejos do capital, ele escondia o gordo negócio de plantar anúncios detrás do rouco clamor das manchetes que manavam inesgotavelmente do estrépito das suas máquinas rotativas.

Vivenciamos em crise, estamos sem fé. Inicialmente tudo começou na Reforma com a autocracia do indivíduo, o caminho funesto pavimentado pelo racionalismo, iluminismo, liberalismo, bolchevismo e anos ouros ismos, conduz ainda ao horror do aniquilamento. Vige sentimento difuso de culpa que tanto nos oprime.

Ninguém desconhecerá, neste retrato do nosso tempo, a influência de Karl Jaspers e de José Ortega y Gasset. A referência é, de um lado, a Trotsky e, de outro, a Ernst Jünger, este figurando aqui como ideólogo de toda uma geração. Nunca fomos tão circunstanciais e incipientes.

Também Wilhelm Dilthey , decerto testemunha nada parcial, foi da opinião de que a destruição da vida intelectual modern tomara como ponto de partida a Reforma.

A frase pede um esclarecimento. Ainda há poucos anos, positivistas, de um lado, e neokantianos, de outro, defendiam território da filosofia. O positivismo começara com uma excelente moderação do conhecimento, mas o seu agnosticismo transformou-se, ato contínuo, numa tomada de posição hostil a toda metafísica.

Nisso observava os ditames das ciências da natureza, cuja autoridade exigia circunscrição ao sensível, exclusão do espiritual. Quando, porém, compelida pelas investigações da Escola de Baden (Windelband, Rickert), a ciência natural teve de abdicar dos ditames sobre as ciências do espírito, colapsou também o positivismo.

A escola de Baden dividiu as ciências entre dois polos, o generalizante e o individualizante. WilheIm Windelband, representante dessa escola, queria dar às ciências da natureza e às ciências do espírito a sua especificidade, por esse motivo o filósofo fez a distinção entre conhecimento o nomotético e o ideográfico.

O fim, com a Escola de Viena (Carnap ), é a renúncia a toda filosofia. Os acontecimentos decisivos, no entanto, foram o desmascaramento do niilismo e a postulação de tábuas de valores por Nietzsche, e, depois, desde o aparecimento da escola de Brentano e a redescoberta de Bolzano, a corrente antikantiana. Husserl elaborou na sua fenomenologia um novo conceito de verdade.

A verdade para Husserl é a adequação entre o que se intenciona significar e o significado. Ela é sempre a verdade de um sentido promovido pelo ato intencional da consciência como preenchimento de sentido à coisa.

Estivesse Galileu hoje perante um tribunal inquisitorial de naturalistas modernos, o processo não teria final diferente do que perante a inquisição eclesiástica então. A nenhuma astronomia será lícito ainda afirmar-se obrigada a enxergar numa inquisição um seu inimigo de morte, mas antes, ao contrário, um guarda alerta contra hipóteses precipitadas.

Tanto a finitude quanto a infinitude do mundo são inimagináveis para o entendimento humano. Não podemos imaginar que em algum lugar o espaço tenha fim e que não exista mais nada depois, mais nenhum espaço.

Não podemos tampouco imaginar que mundo seja infinito, porque em pensamento temos de fixar limites em algum lugar. A teoria da relatividade é mais uma vez o ovo de Colombo.

O espaço, como propriedade d mundo, é infinito e ilimitado, talvez da mesma maneira como uma linha circunferência ou uma superfície esférica, que são mui decididamente finitas e em que, no entanto, pode circular sem limites, sem jamais achar fim.

O existente é como uma concha flutuando no infinito do inexistente. O universo é uma ilha no todo. Mormente temos o muiltiverso.

 

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 26/05/2023
Código do texto: T7798197
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