DOS TREMORES AOS TEMORES

Era início de fevereiro de 2013, começavam as primeiras dores lombares que me levaram a pensar ser apenas uma agradável cólica renal, a qual já havia me visitado algumas vezes. Não foi constatada a tal urolitíase, nome científico de cálculo renal. Passado algum tempo, as dores se repetiram de forma mais aguda, em uma sequência beirando o insuportável.

Diante disso, palpitaram que era problema de coluna, quando me indicaram uma massagista profissional, dessas que têm diploma e tudo, que fez desse pobre diabo gato e sapato, literalmente. Ao final da sessão já não distinguia se eu era o gato ou se era o sapato. Nada resolvido, e a dor se acentuando ainda mais.

Partimos então para algo mais objetivo, consulta com ortopedista, Raio-X e logo a seguir uma Ressonância Magnética que constataram uma fratura entre as vértebras, L 1 e L 2. Indicação do ortopedista: colete protetor, medicamentos e fisioterapia.

Mesmo com toda a recomendação médica e procedimentos a dor não amenizava, muito pelo contrário, me infernizava. Procuramos um neurologista que alegou que ocorrera de fato uma fratura e que eu deveria me submeter a uma cirurgia que, no particular, girava à época em torno de R$ 50.000,00, depois dessa proposta a minha dor só aumentou. Esse mesmo profissional receitou um medicamento, Ultracet, que prejudicou o meu intelecto, passei a ver desenhos animados, a ter alucinações. De imediato suspendi o tal.

Num segundo momento, em meados de outubro de 2013, consultei outro profissional neurologista que solicitou mais uma Ressonância e, pasme, uma inflamação é constatada na cartilagem entre a L 1 e a L 2. Ele pediu exames de sangue e de tuberculose. Ainda, concomitantemente um infectologista diagnosticou tratar-se de uma bactéria, (Staphylococcus aureus) tratada com antibiótico (Avalox) da Bayer, em quatro meses constatou-se que bactéria fora eliminada. Paralelo a tudo isso fui submetido a algumas sessões de acupuntura.

A partir de então a dor foi amenizada e o profissional suspendeu o uso do colete. Todavia, passei a claudicar e tudo indicava que havia ainda um pincelamento na coluna. Outra Ressonância para averiguar, embora perdesse a cartilagem, os discos se solidificaram. Retornei às sessões de fisioterapia, para depois buscar algo mais eficaz, o RPG. Com o decorrer do tempo, pude notar que a minha mão e o braço direitos por vezes formigavam, passei a sentir dificuldades para manusear um simples botão da camisa, dar o laço no cordão do calçado, bem como a utilizar os talheres.

Além de tudo isso, também sentia dificuldades para dirigir o automóvel, uma vez que, ao mudar as marchas, os membros do lado direito quase não obedeciam aos meus comandos, por vezes travavam. Sentia minha perna direita tremer involuntariamente, passei a ter limitações ao caminhar e a manusear objetos, segurar um copo ou uma xicara com a mão direita merecia cuidados extras.

Fui percebendo, com o passar dos dias, que os tremores se tornaram mais constantes e os simples desvios entre mesas e cadeiras passaram a ser um desafio ao meu equilíbrio, constatei que a qualidade do sono se comprometera, em virtude do desconforto muscular acentuado.

Um outro fato despertara minha atenção, minha caligrafia, que nunca fora uma excelência, piorou o nível, os garranchos passaram a caminhar fora das linhas como vagões descarrilhados, sem rumo e sem um padrão de tamanho. Ainda, a digitação no computador passou a exigir um esforço que até então nunca precisara. Nesse período fiz cerca de 5 ressonâncias magnéticas da coluna focando L1 eL2. Desde então percebi que a situação estava passando dos tremores para os temores.

Continuando, no final de 2016, após idas e vindas em dois neurologistas renomados, foram elaborados, exames de sangue, ressonâncias do cérebro e da cervical, liquor, a eletroneuromiografia (ENMG) dos membros inferiores, entre outros e foi constatado que eu fora acometido por uma “Mielopatia Cervical”. Porém todos os sintomas até aqui relatados continuavam se agravando;

De dezembro de 2017, até 05 de março de 2020, fui medicado com “AKINETON 2 mg”

No dia 05 de março de 2020, em consulta com outro médico neurologista, suspendeu-se “AKINETON 2 mg”, por entender que o mesmo não causava efeito algum para o meu diagnóstico, e o substituiu por CLORIDRATO DE AMITRIPTILINA e solicitou a eletroneuromiografia (ENMG) dos membros inferiores e superiores, Ainda, o profissional alegou existirem duas possibilidades de ser acometido pela “Mielopatia Cervical”, a de ordem degenerativa ou a adquirida, sendo que a primeira fatalmente levaria o paciente a terminar seus dias em uma cadeira de rodas. Concluiu que eu era um cara de sorte, e que sessões de fisioterapia e de RPG são paliativas, podendo em muitos casos agravar a lesão.

Não satisfeito, em setembro de 2020 consultamos outro profissional, que diante de exames e ressonâncias, confirmou categoricamente o diagnóstico, “Síndrome Parkinsoniana”. Desde então, com a dosagem controlada do medicamento Prolopa, a minha qualidade de vida e a minha condição física está estável. Ainda, faço sessões de terapia com uma profissional de psicologia e, assiduamente fisioterapia na Universidade Metodista. Os tremores se amenizaram, porém, os temores se acentuaram.

Do ponto de vista da evolução da doença, ela também afetou a minha visão, haja vista que agora tenho que fazer uma cirurgia das cataratas e tratar de um glaucoma, assim, tenho que manter os olhos abertos, literalmente. Existem também os fatores da fala, da salivação e da deglutição que, a princípio, até aqui me atingiu levemente.

Passei a frequentar semanalmente o Centro de Reabilitação (Fisiatra, fonoaudióloga, fisioterapeuta, psicóloga), do município de São Bernardo em um grupo de pessoas com Parkinson. Dessa forma, asseguro que estou superando de forma positiva, tanto que dia desses me perguntaram como era o grupo e, para não deixar perder a piada, prontamente respondi que se tratava de um “grupo tremendo.”

Aos amigos posso dizer ainda com humor, a vida não é fácil, mais o menos como uma geleia, treme mas não se desmancha com facilidade e, com tremores e com temores temos que levar na boa, sem tremer na base.

Samuel De Leonardo (Tute)
Enviado por Samuel De Leonardo (Tute) em 26/05/2023
Reeditado em 26/05/2023
Código do texto: T7798079
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