ANJO DA MORTE
Tua aparição sempre será emblemática: um anjo e guardião da porta oriental. A perfeição é direito teu. Vens de um tempo onipresente... O tempo de Deus. Dimensão. Espaço. Existir. Ações. Reações. Frações. Augusto ser que me acorre às madrugadas de todos os janeiros. Por que testemunhas o meu sono aflito? És mesmo um mensageiro do céu? Confusão que me agoniza... Sou uma aberração do mundo. Não há como endireitar o meu andar coxo. Se assim o fizesse, vagaria por entre as virgens Marias que conheci. E repetiria todos os pecados. A vaidade é a chaga incurável de meus dias. E nem se essa luz banhar o meu corpo sofrível... – Terei salvação. Ainda preciso desta vida; e a vida sorri na contramão. Senão pelos meus amores, os medos é que seriam vencedores. E as lágrimas se apoucaram. Embruteci. Adoeci. Mas, persisti. O que há agora? Tu te lembras? Folhas secas descolorindo caminhos. Janelas emoldurando os destinos. Painéis. Cenários. Retratos. Traços... Coisa alguma. Se é chegada a hora... Conceda-me o desejo de viver por mais um dia, sem a ignorância dos comuns ou a arrogância dos intelectuais.– E para ter a certeza de que mereci viver, sofrer no intervalo de cada fôlego e para que essa angústia seja a última testemunha de mim.
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Tua aparição sempre será emblemática, como um anjo, o guardião da porta oriental. A perfeição é teu direito, pois vens de um tempo que não nos pertence, o tempo de Deus. Dimensão, espaço, existência, ações e reações – és o augusto ser que me socorre nas madrugadas de todos os janeiros.
Mas por que presencias o meu sono aflito? Serias mesmo um mensageiro do céu? Essa dúvida me atormenta... Sinto-me uma aberração do mundo. Não há como endireitar meu andar coxo. E, se fosse possível, eu vagaria novamente entre as "virgens Marias" que conheci, repetindo os mesmos pecados. A vaidade é a chaga incurável de nossos dias. Mesmo que essa luz banhe meu corpo sofrido, sei que não haverá salvação.
Ainda preciso desta vida, pois, apesar de tudo, ela me sorri na contramão. Se não fossem pelos meus amores, os medos já teriam vencido. As lágrimas, com o tempo, se tornaram escassas. Tornei-me bruto. Adoeci. Mas persisti.
E agora? O que resta? Folhas secas descolorindo os caminhos, janelas emoldurando destinos. Painéis, cenários, retratos, traços... E nada mais.
Se minha hora chegou, concede-me apenas o desejo de viver por mais um dia – sem a ignorância dos comuns, sem a arrogância dos intelectuais. E, para ter certeza de que mereci viver, que eu possa sofrer no intervalo de cada fôlego, permitindo que esta angústia seja a última testemunha de mim.