ALÉM DA ROSEIRA
Estou neste momento,em minha mesa de trabalho encostada à janela.
Junto a parede, em frente à janela, uma roseira que costuma florescer o ano inteiro.
O cheiro delicado das rosas invade meu local de trabalho e, devo confessar ,hoje não estou muito inspirado a produzir nada.
Assim, nesta preguiça voluntária,
meus olhos vão sorvendo o progresso do bairro e as lembranças teimam em reconstruir cenários.
Passo a borracha na modernidade e reencontro a ferraria do senhor Romão Didur, as carroças estacionadas em frente,os cavalos desatrelados , pastando a grama à beira da estrada, os ecos da bigorna e algumas risadas largadas entre um causo e outro.
Pelas casinholas da hoje rua Rio de Janeiro, as comadres, agarradas à cuias de chimarrão, trocam confidencias enquanto a piazada brinca.
Cantam os galos índios de seo Ozório e as galinhas de Angola ciscam a ferrugem outonal nas folhas de caquizeiros.
As janelas pensativas do casarão de dona Tuta, os passos lerdos de dona Ortilizia e seo Bigode conduzindo os burros ao potreiro, pincelam o restante do cenário.
Uma tarde nostálgica, quieta e ensolarada sob um céu de brigadeiro.
Meados de maio, outono, poético e ligeiramente frio.
Outono de mim, reflexivo, saudosista, poético e preguiçoso .
Eis-me aqui, concedendo um tempo para jogar meu olhar e conversa fiada além da roseira .
Ah !...Esta roseira evocando as loções de vó Izaura.
Cheiros de infância, daqueles outonos de grama ressequida, gado ruminando dias iguais, minha vila entre sol e fumaça, caquis além das cercas e meninos sonhando sabores de quintais.