Cidades e amores
O poeta Lêdo Ivo, ao cantar seu amor por Recife, esclamara: "amar mulheres, várias! Amar cidades, só uma: Recife..." e segue versejando afetos pela cidade de pontes e poetas. Após uma semana em Teresina, por fim, tive a possibilidade de andar em busca de um mergulho na cultura, nas gentes, na História, nas memórias e Geografia do lugar.
No segundo dia em Teresina, ao descer do ônibus, dei de cara com o Museu do Estado do Piauí. Que fiz? Entrei. Mas nutria maior vontade de ir aonde acontece o encontro entre os Rios Parnaíba e Poti e de adentrar, ainda, a Casa da Cultura por cuja calçada passei duas ou três vezes... Afinal, o fiz. Além de caminhar no comércio popular.
A cidade tem um centro comercial pulsante, agitado e, interessante, achei tudo muito semelhante à Rua das Calçadas e arredores do Mercado de São José, em Recife. Não há pátios, porém. E há poucas igrejas. Deve ser por conta da cidade não ser colonial. Cidade jovem, Teresina comemorou seus 150 anos um dia desses!
Gosto das cidades. Percorro-as com olhar atento. Em Delmiro Gouveia quase não andei a pé - o que estranhei. Já em Piranhas, saciei minha sede de Rio São Francisco, guardada desde Petrolina. Aprendi a amar outras cidades. Amor que não trai nem troca Recife. Permaneço leal à cidade que carrego por dentro de mim por onde vou. Nos livros de visitas de museus, assino e destaco, ao lado do nome, Recife/Pernambuco. Recife viaja comigo e percorre outras cidades. É um olhar recifense que percorre e descobre Teresina.
Amores, de fato, são assim. Impossível amar alguém sem histórias, sem memórias. "Gente é outra delícia". A delícia está na diferença. Na diferença e na descoberta. O mesmo, o previsível, não excitam, não atraem. Moro em uma cidade que me surpreende. Saio de Recife carregando-a comigo e retorno a Recife trazendo outros lugares comigo.
Re-conheço Recife, então. E gente, "gente é outra delícia". Há que se percorrer geografias e histórias das gentes para poder amá-las. Percorrer espaços e memórias com a experiência - e, por vezes, a esperança - que trazemos, mas também reconhecendo a novidade do outro, sem tentar enquadrá-lo ao nosso querer.
Amantes seriam melhores em seu exercício de amar se aprendessem a viajar, a agradar às pessoas que nos acolhem mundo afora, a encontrar identificação nas coisas de outro lugar. Amar é deslocar-se. Acontece que pouquíssima gente quer sair de si mesma.
Descobrindo Teresina, ao caminhar, escutei, involuntariamente, duas fracassadas histórias de amor, três brigas ao telefone e um daqueles aconselhamentos de arrepiar de uma suposta melhor amiga. Ainda bem que o comércio da cidade, então, respirava verde-e-amarelo e raramente se vê referências ao Dia dos Namorados. Imagine só: precisar reconhecer a crucial ignorância humana em questões de amor às vésperas de dia tão simbólico. Devem ser os preços! Talvez... as pessoas estão brigando porque amar na sociedade de consumo tornou-se um custo muito alto. Apenas uma suposição... mas são detalhes. "Detalhes", como cantaria o Rei Roberto e inspiraria o nome de Motel no caminho do Encontro dos Rios. Confluências, no entanto, são coisas muito grandes para esquecer. O Amor é inconfundível.