Digby Schumaker

Depois de uma longa convivência de quase dezesseis anos, a hora fatal chegou durante uma tentativa em ajudá-lo e com isso, deixá-lo mais confortável. A gente sabe que esse momento crucial chega para todos, humanos ou animais, mas sempre achamos que é cedo demais, mesmo sabendo que o tempo já tardou.

Digby Schumaker, com esse nome esdrúxulo, ele viveu com a gente.

Dei-lhe o primeiro nome por causa de um filme antigo sobre um cachorro branco e peludo que crescia descomunalmente depois de ser atingido por alguma experiência científica. O filme chamava-se “Digby, o Maior Cão do Mundo.”

Ele já havia sido “batizado” com o segundo nome quando fomos conhecê-lo na casa de uma amiga de trabalho que o havia adotado logo após o desmame e não esperava que ele crescesse tanto, então juntamos os dois nomes e ficou escrito desse jeito quando fizemos seu cartão de vacinas com o veterinário.

A princípio eu não queria outro cachorro, pois tinha acabado de perder uma fêmea adorável, também de poodle, que ficou com a gente dois anos e sete meses. Mas acho que isso é uma reação normal a todo dono de pet, até se apaixonar pelo próximo bichinho.

Fui com meu marido e minha filha adolescente até o apartamento de minha amiga, porque eles queriam ir vê-lo, com o objetivo de não permitir que adotassem mais um cachorro, após o perrengue dos últimos três anos quando já perdêramos dois. Mas eu era única contra três.

Minha amiga da onça querendo se livrar do cachorro e os meus querendo adotar.

Senti-me impotente quando o vi agarrado ao pescoço do meu marido como se os dois se conhecessem a vida toda e, sem alternativa, consenti que o trouxessem para casa.

Veio bebê, grande, porém fofo, adorável e divertido, a princípio, depois, com o passar do tempo traiçoeiro, foi se tornando um senhor de idade, deseducado, mimado e cheio de manias. Quando eu me irritava com ele o chamava de “abominável cachorro das neves.”

Não era um roedor compulsivo, estragou um ou dois chinelos apenas, mas era um macho compulsivo em marcar território. Qualquer quina para ele era um bom motivo para levantar a perna. Um dia falei para os donos dele, meu marido e minha filha, ou castra ou doa!

Resolveram, com muita dó, castrá-lo e depois de um tempo a convivência se tornou melhor.

Calmo e carinhoso, só virava fera quando encurralado, sentindo-se ameaçado. Brincava com a bolinha e dormia aos pés da nossa cama. Muito bom de boca, por sinal, comia tudo que se lhe desse, saía à rua sem guia ao longo das calçadas.

Quando o vi pela primeira vez, com quatro meses, já era bem grandão, da raça poodle tamanho médio, com o passar do tempo chegou e pesar onze quilos. À medida que a idade avançava os muitos problemas de saúde começaram a aparecer. Lá pelas tantas ficou epilético e passou a ser tratado com Gardenal, aos dez anos desenvolveu diabetes e administrávamos insulina duas vezes ao dia, um tempo depois ficou sem visão e foi lhe implantado uma lente num dos olhos para que pudesse enxergar mais ou menos, tinha esteatose hepática e, por conta disso, problemas gastrointestinais constantes. Durante anos fomos tentando driblar essas doenças com todos os tratamentos possíveis para dar-lhe sempre uma chance a mais, até que, cansado, deu um basta e finalmente desistiu. Também cansados da labuta, não adianta negar, chegamos a cogitar a hipótese de sacrificá-lo, porém o veterinário achou que ele ainda tinha possibilidade. Consolamo-nos sabendo que foi feito sempre o melhor possível em todas as tentativas. Em nossa longa convivência não há culpas, afinal, amou e foi amado, bem cuidado e viveu com conforto até o derradeiro momento. Deixou saudades e sempre será lembrado pelas tantas alegrias que proporcionou.

 

 

 

Roseli Schutel
Enviado por Roseli Schutel em 21/05/2023
Reeditado em 21/05/2023
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